- Zé Bigodes? O meu Zé Bigodes? És mesmo tu, Zé Bigodes
Zé Bigodes era mesmo ele: em carne, ossos, cabelos, cartilagens, fluídos e roupas ensopadas. Lançou um olhar cor de mar para o objecto do seu afecto, Olívia Manca e abriu a boca para proferir algumas palavras que feririam como punhais, todos os que se encontravam na lota.
- Não vos aproximeis de mim, inocentes criaturas! Receio estar radioactivo! A embarcação onde eu seguia, foi abalroada por um submarino Soviético de propulsão nuclear, enquanto estávamos a tentar apanhar um linguado fugidío.
Florindo Lambreta, pai adoptivo de Zé Bigodes e mecânico nas horas vagas, precipitou-se em direcção ao busto do seu pseudo-primogénito. Não receou a radioactividade. Apenas queria sentir aquele que era pseudo-sangue do seu sangue. Zé Bigodes, ao ver a precipitação do seu adorado pai adoptivo, fugiu para trás de ums caixotes de lapas e caranguejos, enquanto gritava:
- Não se aproxime de mim, estimado pai adoptivo! O meu desejo era abraçar-te, a ti e à minha Olívia Manca! Mas devo conter-me, pois sei que talvez tenha de arrastar esta sina de não poder tocar em ninguém, para o resto da minha vida!
- Esses Russos só fazem asneiras, meu Zé Bigodes! - soluçou Florindo Lambreta - Primeiro Chernobyl, depois a Estação Espacial Mir e agora isto!
Francisco Panças, apesar do ódio visceral que nutria por aquela criatura, sentiu-se no dever de ajudar mais uma vítima do holocausto do Plutónio.
- Rapaz, Zé Bigodes... não gosto de ti... não te vou mentir só por piedade! Considero que agora não é altura para querelas, mas sim para a união! O problema atómico não é só teu, que o sentes no corpo, mas de toda a população de Vila Marmota! Pensa bem, rapaz! Foste elevado ao estatuto de lixo nuclear radioactivo. Podes ser encarado como um dejecto Russo lançado ao mar em águas internacionais! Tendo o teu corpo dado à costa portuguesa, há que exigir aos Russos duas coisas! Primeiro: estudos de impacto ambiental! Segundo: indemnização por futuros prejuízos que advenham da contaminação de Vila Marmota pela radioactividade que carregas contigo.
Olívia Manca estourou num acesso de raiva:
- Parem todos! Porque é que ignorais o verdadeiro problema do meu Zé Bigodes? Temos que arranjar uma forma de ele poder circular por Vila Marmota sem prejuízo para os outros, nem para ele!
- Mas como vais conseguir isso, filha minha? - interrogou Francisco Panças.
- Sim! Como vais conseguir isso, filha de Francisco Panças? - contra-interrogou Florindo Lambreta, pai adoptivo de Zé Bigodes.
- Acalmai-vos, homens de pouca fé! Apenas temos de falar com o senhor Godofredo Latinhas!
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