quinta-feira, maio 25, 2006

Amor na Lota do Peixe - Introdução e Capítulo I

Amor na Lota do Peixe

Introdução

Em tempos escrevi uma novela ao jeito de tragi-comédia sob o pseudónimo de Casimiro Lambreta. Foi uma das primeiras edições electrónicas do país e quiçá da galáxia. Como um blog também deve conter patetices (?), vou publicá-la neste espaço. Espero que apreciem. No final, terão uma biografia sucinta do meu pseudónimo.

Capítulo I

A manhã acordou pardacenta por sobre as casas da velha vila pescatória. A faina havia começado às tantas da madrugada e alguns dos barcos emproados regressavam ao cais. À sua espera, estavam os bois-de-arrasto, as rameiras, as peixeiras, e uma ou outra gaivota de olhos fitados no peixe. Tudo era pacato e calmo na areia orvalhada.
Olívia Manca - a beldade lá da zona - esperava com mais impaciência os barcos que começavam a aparecer no horizonte. Isto tinha um motivo especial. O seu Zé Bigodes também andava na faina! Como ele sabia anzolar os robalos, as trutas e as fanecas. Só de o ver lançar a linha, a nossa Olívia Manca, ficava maravilhada.

- Ó catraia! Ó filha? Que é que estás a fazer a olhar escarrapachada para os carneirinhos do mar? - perguntou a dona Emília Genoveva Cerqueira de Castro Gumercinda de Miranda, mãe da Olívia Manca.

- Nada, minha mãe... apenas contemplo o azul infinito da água e interrogo-me sobre o porquê de tudo isto! O que comanda o girar da terra? O que faz com que a lua regule as marés e os peixes se estruturem numa cadeia alimentar equilibrada? Se não é Deus que está por trás disto, quem será? Pode uma alma ficar alheia a estas questões que mexem com o âmago da nossa existência?

A dona Emília Genoveva Cerqueira de Castro Gumercinda de Miranda atirou com uma truta à cara da sua filha, que ficou uns bons três minutos a cuspir escamas.

- Isto é para aprenderes a não faltar com o respeito à tua mãe!

Olívia Manca não compreendeu o comportamento irracional da sua mãe, mas mesmo assim consentiu que lhe tivesse atirado com o peixe ao focinho... não estava em pontos de regatear, já que era totalmente dependente da família. Tinha porém a secreta certeza de que, mal pudesse, fugiria com o seu Zé Bigodes.

Os barcos chegaram, os pescadores sairam com os seus peixes, mas Zé Bigodes não regressou! Que lhe teria acontecido?

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