sábado, novembro 11, 2006

Um novo roteiro: Resende

Hoje andei a fazer umas arrumações aqui por casa e encontrei um texto de ficção (com vários laivos de realidade) meu de 8 de Março de 1989. Fica aqui a sua transcrição, com alguns retoques cosméticos ao português utilizado...

"Era uma manhã calma de Março. Eu encontrava-me no peitoril da minha janela a ver o sol fazer o seu percurso rotineiro. Tal como ele, também eu tenho a minha rotina diária: levantar-me, lavar-me, vestir-me, comer e ir para o trabalho... mas naquele dia não! Era sábado! E ao sábado eu saio da rotina para ler, dar uns passeios à beira rio, ou então limitar-me a observar tudo o que passa à minha volta.

Resolvi tirar esse dia para visitar uma aldeia do interior. Fazer algo de diferente. O que eu queria era mudar.

Fiz uma pequena revisão ao carro e puz-me a caminho. O meu destino era Resende.

Meti-me na estrada para Entre-os-Rios e lá fui. O percurso total era de 100 quilómetros. A meio do caminho para Entre-os-Rios, parei para tomar o pequeno-almoço num café de beira de estrada. Eram nove horas da manhã e eu não gosto de guiar de estômago vazio.

Lá voltei a seguir viagem. Respirava o ar que, pela primeira vez em anos, se mostrou de uma frescura relaxante. Observava também a paisagem circundante em busca de coisas simples que, afinal, são as mais belas. Para além do canto dos pássaros, encontrei serpenteando por entre as encostas das montanhas, o Rio Douro. Ora azul, ora dourado, o rio apresentava-se com uma beleza ímpar. As igrejas e as pontes românicas despontavam aqui e ali. Os campos verdejantes escorriam desde o cume da montanha até à berma da estrada.

Por fim, cheguei a Entre-os-Rios. Antes de entrar na ponte, parei o carro e fui comprar umas rosquinhas que uma velha senhora vendia:

- Por favor, minha senhora, queria umas rosquinhas...
- Sim, sim! Quanto quer levar?
- Faça-me um quarto de quilo, sim?
- Muito bem... tome! São fresquinhas!
- Obrigado!

Meti-me no carro e dirigi-me a Resende.

De Entre-os-Rios até Resende, podem ver-se casas do século passado e locais em que o tempo parece ter parado há cem anos atrás: continuam a recorrer às tecnicas tradicionais de agricultura, os caminhos são feitos para carros-de-bois e as pessoas levam uma vida despreocupada.

Observei os pedreiros no meio do granito, a fracturá-lo em pequenos ou grandes bocados.

O rio Douro acompanhou-me sempre lá do fundo.


A estrada era agora quase sempre aos zês, pois haviam muitas tabuletas a avisar-nos para abrandarmos a marcha e avançarmos cautelosamente. Faltava-me pouco mais de cinco quilómetros para chegar a Caldas de Aregos. Eu estava "em pulgas" para chegar ao meu destino. Em Caldas de Aregos tornei a sair do carro para beber alguma coisa num café com pouco mais de cinco mesas. Caldas de Aregos é muito conhecida pelas termas que lá existem.

Próxima paragem: Resende. Felizmente para mim, de Caldas de Aregos a Resende são uns escassos dez quilómetros.

Quando lá cheguei, fiquei espantado com a simplicidade do lugar. Uma rua principal ramificava-se em ruas mais estreitas de onde nasciam casas mais ou menos novas. Uns tantos cafés, talhos, padarias, restaurantes e está uma vila feita! Parei o carro, saí e fui dar umas voltas pela povoação.

Um belo jardim muito limpo e florido, dava toda a sua beleza a quem por lá passasse e se sentasse à procura de descanço. Depois, virei a minha atenção para um lindo coreto. Por momentos, imaginei a banda a tocar.

Depois do almoço, parei no café "Cova Funda", para comprar as especialidades de Resende: as Cavacas e a Bola de Carne.

Segui depois em direcção ao Penedo de S. João. Daí, pode disfrutar-se de uma visão completa de Resende, Cinfães e de outras terras vizinhas.



O caminho de regresso não foi menos agradável. O pôr-do-sol empresta um tom bucólico às paisagens do douro vinhateiro.


Não hesito em recomendar este roteiro. Estou certo que cada um o apreciará à sua maneira"...


As viagens até Resende são das lembranças mais marcantes da minha infância: pelo encontro com os meus avós maternos, pela paisagem imensamente diferente daquela que me circundava no dia-a-dia e, pelos terríveis enjôos durante a viagem. As fotografias que acompanham esta narrativa têm, no máximo, três anos... reflectem o fascínio que ainda hoje sinto quando vou a Resende.

2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui está um post que deveria ser “censurado”… Não sei porquê, mas tocou-me na alma… de facto fiquei com os olhos cheios de água quase quase a transbordar. Isto de estar a aproveitar o que resta da hora de almoço (do chefe) para navegação internauta de nível puramente pessoal pode ter consequências nefastas se as emoções vierem à tona… E, pelos vistos, hoje as minhas andam à flor da pele.

Rmr

Vítor Carvalho disse...

Estou a descobrir os pequenos prazeres de um escritor (mesmo sendo um escritor de vão de escada como eu)... despertar sentimentos nas pessoas através da escrita... é este o poder da caneta (ou do teclado, neste caso). Um beijinho para ti, Rute.

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