- O governo parece ignorar a regra básica de qualquer administrador que se preze e que consiste em não se gastar mais do que o que se ganha;
- O governo só agora começou a implementar políticas contra o despesismo em todos os sectores do estado;
- O governo teima em não apoiar sectores de actividade que poderão gerar riqueza interna e diminuir a nossa dependência do estrangeiro;
- O governo continua a apoiar o laxismo das pessoas ao fazer com que continuem a optar pelo rendimento mínimo em detrimento de um trabalho;
- O governo não consegue livrar-se dos jobs for the boys mesmo que isso implique colocar pessoas incompetentes em cargos que não são mais que uma segunda escolha para candidatos autárquicos falhados, entre outros;
- O governo e o povo português continuam a viver acima das suas possibilidades;
- O povo português valoriza o chico-espertismo;
- O povo português tenta sempre contornar a lei e o estado para tirar um benefício próprio;
- etc.
Parece que já adivinho a discussão estéril entre o governo e os sindicatos sobre a percentagem de grevistas em cada sector de actividade, que segue as fórmulas empíricas:
Governo: ( 0 + x ) % de grevistas
Sindicatos: ( 100 - x ) % de grevistas
Com x < 30 % e a tender para zero.
Como conclusão, o governo até poderá dizer que "a fraca adesão à greve é um sinal claro de que os portugueses percebem a grave crise em que o país se encontra (originada pela conjuntura mundial) e que estas são as políticas correctas para se ultrapassar a situação". Só que não percebe, ou finge não perceber, que a revolta está no facto de que tudo isto poderia e deveria ter sido evitado.
Olho Vivo e Zé d'Olhão
Herman José e Joel Branco
Esta vida é um fadinho
Que põe um homem de molho.
- Eu finjo que sou ceginho!
- Eu tenho um g'anda olho...
Olho Vivo!
- Zé d'Olhão!
Até manda ventarolas!
Isto é que é uma união:
- Se um diz mata!
- Outro diz esfola!
Isto é que vai uma vida
Cá neste meu Portugal!
Uns a dizer que 'tá bem
E eu me'mo a ver que 'tá mal!
- Eu não sou de mandar vir
Mandar a bronca não escolho!
Mas há coisas a pedir
Um granda soco no olho!
- Ó terra do chico-esperto
Ó terra do Zé Foguetes
Que está sempre de olho aberto
Mas enfia os seus barretes!
- Há muitos oportunistas
A ver s'a coisa s'ajeita
Por um olho olham para a esquerda
Pelo outro olham p'á direita!
Olho vivo!
- Zé d'Olhão!
Até manda ventarolas!
Isto é que é uma união:
- Se um diz mata!
- Outro diz esfola!
As crises neste país
São semp'a me'ma receita!
Ora são fúrias da esquerda
Ora ataques da direita!
- Um homem não é de ferro
E as crises não são de bronze!
O país é com'ós bêbados
Está entre as dez e as onze!
- A época espacial
Finalmente 'tá a surgir
Nas terras de Portugal
Onde 'tá tudo a subir!
- Olha p'ó custo de vida
Sei eu e sabes tu!
'té parece um foguetão
Que leva fogo no cu!
Olho vivo!
- Zé d'Olhão!
Até manda ventarolas!
Isto é que é uma união:
- Se um diz mata!
- Outro diz esfola!
C'os cintos de segurança
Nos carros nada sacode!
É mais um cinto à'pertar
A barriga do pagode!
- Os cravos da revolução
'tamos a pagar com juro!
Pois o cinto português
Já vai no último furo!
- Ó terra de boa gente,
Ó terra dos meus amores
Tudo quer independência
'té a Madeira e os Açores!
- Se a coisa assim continua
'tá-se a ver que qualquer dia
'té damos a independência
Ao Barreiro e a Leiria!
Esta vida é um fadinho
Que põe um homem de molho.
- Eu finjo que sou ceginho!
- Eu tenho um g'anda olho...
Olho Vivo!
- Zé d'Olhão!
Até manda ventarolas!
Isto é que é uma união:
- Se um diz mata!
- Outro diz esfola!
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