quinta-feira, julho 12, 2007

Enigma

Sou fã dos Enigma e do seu fundador, Michael Cretu, desde o seu primeiro disco, que remonta a 1990. A primeira vez que os ouvi, foi numa apertada discoteca da Costa da Caparica, nesse mesmo ano, quando por lá deambulava num passeio do 10º ou 11º ano. Alguns atributos daquela sonoridade marcaram a época e serviram de inspiração para muitos grupos de New Age e não só: os coros gregorianos, as pan-pipes, o ritmo. A aura de misticismo, o cheirinho a idade média, os laivos da inquisição e do culto religioso exacerbado estão lá, fundindo-se num cocktail de especiarias sonoras ao qual é difícil resistir. Pelo menos no que me diz respeito! Analisemos os álbuns:

MCMXC a.D.
O primeiro disco dos Enigma. Marcou definitivamente a época em que surgiu e abriu sendas por onde seguiriam os outros álbuns ("The Voice of Enigma" serve de entrada para outros discos). O canto gregoriano, as pan-pipes e as excelentes colagens de gravações de terceiros (como o canto lírico de Maria Callas na música "Callas Went Away" ou um hallelujah judaico na música "Hallelujah"), são os sons muito próprios deste álbum.

The Cross of Changes
Este disco continua na mesma linha do anterior, onde dominam os sons das pan-pipes. Os cânticos tribais dos Ameríndios surgem em músicas como "Return to Innocence", uma das minhas preferidas. As percursões primitivas, solos de guitarra com distorção e algumas reminiscências do velho oeste americano (dadas por uma gaita de boca) figuram noutra música da minha preferência: "I Love You, I'll Kill You". Este disco acaba por retratar o encontro dos europeus com os povos primitivos, acabando com o seu éden terrestre.

Le Roi est Mort, Vive le Roi!
Embora este disco comece por lembrar o "The Voice of Enigma", não se deixe enganar: a sonoridade dos Enigma vai mudar um pouco neste álbum. Torna-se mais sideral, mais tecnológico. Se tiver uma boa aparelhagem, conseguirá ouvir os graves poderosos da batida da música "Morphing Thru Time", que acompanham o coro gregoriano. Uma espécie de balada ritmada é o que caracteriza uma das minhas músicas preferidas deste álbum: "Why!" O cântico sânscrito funde-se com o coro gregoriano noutra música de eleição: "The Child in Us".

The Screen Behind the Mirror
O mote inicial para este álbum é novamente o espaço, que abre alas para a entrada poderosa da Ópera "Carmina Burana" de Carl Orff na música "The Gate", com passagens do "O Fortuna". Este "O Fortuna" volta a surgir num cenário radiofónico na minha música preferida desta colectânea: "Gravity of Love", que faz arrepiar a espinha toda. Em "Camera Obscura", Michael Cretu brinca um pouco com tocar às avessas: a voz canta a música do fim para o início. E gostou tanto do resultado que volta a usar este estratagema mais algumas vezes.

Voyageur
Curiosamente, ainda não me dediquei muito a escutar este disco, embora o tivesse comprado assim que surgiu. Ouvi-o uma ou duas vezes. A explicação que encontro é que talvez não me tivesse identificado com as músicas. Para dizer a verdade, neste momento não me lembro de nenhuma delas. Há que ouvi-lo de novo para tirar conclusões mais detalhadas.

A Posteriori
É o disco que me encontro a ouvir à medida que escrevo este post. Começa mais uma vez com os acordes de "The Voice of Enigma", mas dá rapidamente lugar a uma sonoridade reinventada. A música de abertura chama-se "Eppur Si Muove". É uma alusão à frase proferida por Galileu, quando disse que afinal a terra não estava fixa no centro do universo, mas movia-se à volta do sol. Quererá Michael Cretu transportar os Enigma da Idade Média para o Renascimento? O canto lírico surge novamente numa das minhas músicas preferidas: "Dreaming of Andromeda". "Dancing With Mefisto" e "20.000 Miles Over the Sea" têm ritmos bastante interessantes. "Sitting On The Moon" é uma balada ritmada bastante agradável. O álbum termina com outra fabulosa balada: "Goodbye Milky Way". O espaço parece ser a fonte de inspiração para Michael Cretu desde "Le Roi Est Mort, Vive le Roi!". E isto acaba por vir confirmado em "A Posteriori".

Lá do alto, apercebemo-nos da fragilidade do nosso planeta. Todos os eventos históricos, todas as pessoas que existiram, existem ou existirão se resumem àquele ponto azul.

"in 5 billion years
Andromeda galaxy will collide with our Milky way,
a new gigantic cosmic world will be born…"

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto. Estou adiando o dia para escrever meu próprio artigo sobre o Enigma há tempos.

Talvez você goste de alguns que já estão prontos, como Magna Canta, Lesiëm e os outros de minha tag música.

Vítor Carvalho disse...

Obrigado pelo teu comentário... achei interessante os teus artigos! Fizeram com que eu pense seriamente em descobrir outros grupos New Age! ;) Um abraço.

Anónimo disse...

Fico feliz por você ter gostado dos artigos.

New Age é só um dos vários nomes que os sites de música usam para classificar esse tipo de grupo. Eu, particularmente, não gosto dele, mas como é o mais difundido, tenho que usá-lo como referência.

Se você quiser algumas dicas de sites de MP3 gratuitos (e legalizados), pode me adicionar no Messenger ou enviar um e-mail. Meu endereço está no meu perfil.

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