terça-feira, setembro 07, 2010

Meio-Silêncio

Não sou poeta. Escrevi esta prosa semi-poética em Novembro de 1997, numa altura em que estava emocionalmente sensível. Para ser poeta, penso que seria necessário ter episódios destes mais amiúde, o que pode ser bom mas também pode ser mau. Acabei por achar que o texto tinha a qualidade mínima suficiente para incluí-lo no meu blogue.

Estas linhas, escrevo-as ao acaso, enquanto espero por um final de tarde.

Lembro-me que são duas horas e eu aqui... num banco de jardim, alimentado pela brisa que passa e por algumas folhas amarelecidas que rodopiam à minha frente.

E é tão  bom parar! Eu que pensava ser este um lugar para os reformados, para aqueles que já não têm muito a esperar da vida, enganei-me. O barulho suave - se há algum barulho suave, é este - do chafariz que enfeita um dos cantos deste jardim, consegue ser um bom conselheiro.

Entretenho-me a ver as pessoas passar. Cada qual na sua vida, uma ou outra circunstância fez com que passassem por aqui neste momento em que estou receptivo ao que se passa à minha volta.

Estamos em meados de novembro. É natural que esteja um pouco frio. Eu, enquanto arrefeço, penso na minha vida.

Por acaso, numa daquelas atitudes irreflectidas, encostei a mão ao meu ouvido esquerdo. Fiquei assim, num estado de semi-surdez e os sons pareceram mais graves. Imaginei como seria a minha vida se não conseguisse ouvir. Naquele instante, tudo me pareceu poético: o movimento das pessoas, os risos das crianças, os automóveis que passavam, todos embebidos em meio-silêncio.

Estranho... ouço o bater do meu coração, o compasso da natureza. Ora acelerado, ora embalado em doces recordações. Tudo isto num banco de jardim, num qualquer princípio de tarde.

Nas minhas mãos tenho um guarda-chuva que, se calhar, não terei oportunidade de utilizar hoje. Ajuda também a guiar os meus passos e gosto de fazê-lo rodopiar, tendo por eixo a minha mão.

É altura de tomar caminho, numa terra que não é a minha, mas na qual me sinto em casa.

Guardo estas sensações porque sei que sonharei com elas mais tarde ou mais cedo.

Em breve partirei de comboio para a minha cidade, numa linha que já conheço bem. Não apreciarei a paisagem pois estará escuro, mas a viagem embalará o meu sono.

Alguns procuram um sentido para a vida. Na minha vida eu procuro lugares, pessoas, atmosferas, sons, amor. Coisas simples, coisas belas, que o Homem tanto estima porque lhe está na própria natureza. 

sexta-feira, setembro 03, 2010

Guia Prático do Condutor Acéfalo - 07

Este é talvez o post mais importante desta colecção. Se tiver de escolher apenas uma regra deste guia prático, não vá mais longe! Aqui está ela! A verdadeira! A única! A arrebatadora regra para todos os condutores acéfalos!

Não há coisa mais inteligente para se fazer ao volante de um veículo. Na presença de um obstáculo ao longe, o condutor deve acelerar sempre até se encontrar a uma curta distância do mesmo. Depois deverá travar a fundo.

Imagine esta situação da vida real. Uma pessoa, fiel cumpridora das regras deste guia prático do condutor acéfalo, viaja pela faixa da esquerda da auto-estrada a uns simpáticos 100 km/h. Ao longe, você que também prima pela fidelização a este guia, circula também na faixa da esquerda a uns simpáticos 150 km/h. Ao avistá-lo, acelera mais um pouco... digamos... para 160 km/h. Ao faltarem umas escassas dezenas de metro para o ponto em que a traseira do carro da frente fica colada à dianteira do seu veículo, deverá travar a fundo para que progrida a uma velocidade igual ou inferior à do carro que vai à sua frente, de maneira a evitar a colisão.

Qual a razão para este inteligente comportamento? É óbvio! Provocar medo no condutor que vai à frente e fazer com que ele infrinja as regras deste guia, deslocando-se para uma faixa mais à direita e permitir que você, que vai atrás, possa progredir a viagem de acordo com as regras da boa condução acéfala. Porque, bem vistas as coisas, para si, mais vale serem os outros a desviarem-se das regras deste guia prático!

quarta-feira, setembro 01, 2010

Freixo de Espada à Cinta

Qual a terra que fervilhou mais no meu imaginário desde miúdo? Sem dúvida que foi Freixo de Espada à Cinta. As razões? Quando queria dizer que algo ficava muito longe, num local remoto, vinha-me logo à ideia frases como "Isso fica mais longe que Freixo de Espada à Cinta"! Depois, o próprio nome da localidade é bastante enigmático.

Foi, portanto, com alguma comoção que me vi a visitar esta pacata localidade.

A origem da Vila de Freixo de Espada à Cinta perde-se nas brumas dos tempos, estando a sua fundação e toponímia encobertas pela neblina que sempre envolvem as lendas. Todavia, vários historiadores afirmam que os Narbassos, povo ibérico pré-romano mencionado por Ptolomeu, habitavam toda esta zona da Península, pressupondo-se assim a existência desta povoação anterior à fundação do Reino de Portugal.

A 27 de Março de 1248 D. Afonso III confirmou o foral outorgado pelo nosso primeiro monarca e todos os privilégios da vila, concedendo-lhe ele próprio um novo diploma foralengo em 20 de Janeiro de 1273.

Freixo é uma vila cheia de História podendo ser usufruída pelo visitante com enorme satisfação, que ao percorrer as suas ruas cheias de portadas e janelas manuelinas, as antigas muralhas e torre ainda medievais, ao visitar a Igreja, ao passear pela Encruzilhada, pela Rua das Flores, pelo Vale, pelo Castanheiro ou pelo Outeiro, desfrutará com certeza de um prazer sem comparação.

A igreja matriz é bastante grande, rectangular, com abside quadrangular e dois absidíolos, um de cada lado, gigantes góticos em três andares e contrafortes nos ângulos da fachada que deixam entrever os cinco tramos em que se divide a nave. As frestas entre os contrafortes rematam em arco redondo, tendo as gárgulas a forma de canhão e os remates em pináculos quadrangulares tão característicos dos meados do séc. XVI.


A Torre do Galo é um monumento nacional. Em granito, facetada e heptagonal é hoje em dia um único e impressionante testemunho do extinto castelo medieval. Segundo Frei Viterbo esta torre foi mandada fazer por D. Fernando I cerca de 1376, uma vez que por ordem expressa deste monarca, nas terras onde não havia paços régios (caso de Freixo), para instalação dos reis quando as visitassem, foram mandados construir os "apartamentos de alcácere" que aqui foram esta torre e o seu belo salão ogival e que durante séculos serviram de residência ao alcaide ou ao governador do castelo.


Também visitámos o museu instalado na Casa da Cadeia, que é quinhentista e serviu como prisão Municipal. Foi feita a sua total recuperação para nela se situar um pólo museológico dividido por 4 salas: "Breve história geológica", "A cultura dos berrões" (denominados por “berrões” ou “verracos”, são representações escultóricas, normalmente em granito, de porcos, javalis, touros, carneiros e talvez ursos), "Dos forais ao município" e "A evolução do mundo agrário".

Perto da Torre do Galo, a minha esposa chamou-me a atenção para o verdadeiro freixo de espada à cinta.


Embora os principais monumentos estejam bem conservados, a localidade propriamente dita está um tanto ou quanto degradada, existindo bastantes casas devolutas.

Audiolivro - Poemas de Luiz Vaz de Camões (Português Europeu - Portugal)

Seleção pessoal de 22 poemas de Luiz Vaz de Camões (Luís Vaz de Camões na grafia moderna). Luiz Vaz de Camões (1524-1580) é o grande poeta d...