quarta-feira, agosto 30, 2006

Renault Clio I 1.4 RT

É com um bocado de dor que escrevo este post.
Hoje, o meu carro foi para abater... ao fim de 10 anos na minha posse... ao fim de 106.000 km percorridos.


Deu-me mais alegrias que tristezas. E juntos passámos bons e maus momentos.
Primeiro, falo dos maus momentos, para que possa terminar em beleza:

  • Lembro-me duma vez em que o Clio começou a deitar um espesso fumo branco pelo capot: tinha furado um tubo de água no radiador. Felizmente estava a 500 metros de uma oficina.
  • Uma noite, ia a sair com o carro e rebentou o cabo do pedal da embraiagem. Felizmente estava à porta de casa.
  • Tive um encontro imediato com um Autocarro da STCP numa manhã de domingo, após uma noite de chuva. Reparação do autocarro: 18 contos (ainda era em contos). Reparação do Clio: 250 contos.
  • Por duas vezes deixei as luzes do carro acesas, que me drenaram a bateria.
  • Tempos houve em que o carro soluçava nas subidas do IC1 (estrada que percorro muitas vezes): tinha partido a base do carburador.
  • Quando a panela de escape furou, tive a sensação de estar a pilotar um carro de rally.
  • Uma vez, o termóstato do radiador pifou e o carro foi aquecendo constantemente à medida que ia percorrendo os quilómetros no IC1. Parei na Póvoa de Varzim com o ponteiro da temperatura quase na zona vermelha (e em riscos de queimar a junta da colassa). Fizeram-me uma ligação directa à ventoínha, colocaram a chauffage no máximo e lá segui viagem.
  • Ao descer a Serra da Estrela, o carro embalava mesmo em segunda. A utilização dos travões valeu-me uma esquentadela jeitosa e um cheirinho característico a ferodo. Mas os travões, depois de arrefecidos, ficaram como novos e cumpriram a sua missão durante mais uns milhares de quilómetros.

Pensando bem, o carro quase nunca me deixou ficar verdadeiramente mal. Fartei-me de passar por BMW e Mercedes encostados na berma das auto-estradas. Isso nunca me aconteceu. Foi um bom carro. E deu pena entregar um carro para abate em tão bom estado de conservação. Mas, com 15 anos, ninguém me dava os €1500 que lucrei com este procedimento.

Do lado positivo, tenho as viagens que fiz, as conversas que tive com ele... algumas confidências, alguns desabafos... as pessoas que transportei e outras que queria, mas nunca consegui transportar. Foi nele que aprendi verdadeiramente a conduzir e é a ele que dedico este texto.

Os meus amigos associam o meu carro a um peluche que trouxe pendurado durante muitos anos no espelho retrovisor interior: o Patrício.

O Clio, o Patrício e eu vivemos uma aventura que durou 10 anos e que hoje finda. Marcava o contador 158.949 km. E já tenho saudades.

Até sempre.

3 comentários:

Borboleta disse...

As odes de despedida são sempre comoventes. Anne Frank escreveu uma ode a uma caneta, tu escreves ao teu carro. e eu percebo-te e sou solidária, mesmo não tendo carro :) é que a gente bem diz que não se apega aos bens materiais, e que o que importam são as pessoas e as emoções... mas os nossos objectos também nos aturam!

Gimli disse...

eu ainda viajei nessas rodinhas! Acho que cantei Nirvanna Unplugged de uma ponta à outra dentro dele :D Em todo o caso, meu caro... Rei Morto Rei Posto!

Anónimo disse...

As saudades que vou ter do Patricio!!

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