No dia 16 de setembro de 2021, faleceu Sir Clive Sinclair, vítima de doença prolongada. Com certeza encontrará muitos vídeos no YouTube sobre a sua vida e as suas invenções. Este vídeo é diferente. É uma abordagem pessoal. Revela que uma das invenções de Sir Clive Sinclair conseguiu modificar a minha vida para sempre. Passo a explicar.
Falo, claro está, do ZX Spectrum, lançado no dia 23 de abril de 1982. Doze dias antes eu tinha celebrado o meu oitavo aniversário. No entanto, só cinco anos mais tarde é que consegui convencer os meus pais a oferecerem-me um clone do ZX Spectrum: o Timex Computer 2068. Certamente que a influência veio do meu vizinho de baixo. Lembro-me de ir a casa dele e de jogarmos jogos como “Commando”, “Monty on the Run”, “Chase H.Q.”, “Saboteur”, “Thanatos”, “Bruce Lee” ou “Nigel Mansel’s Grand Prix”. Mas cedo percebi que gostava mais de ver jogar do que jogar. Assim, como não tinha muito jeito para os jogos, comecei a ler o manual de programação BASIC que acompanhava o computador.
Algures no tempo, devo ter-me sentado em frente ao computador, inserido as instruções de um programa qualquer e de tê-lo posto a correr. Quando vi o computador a executar aquilo que eu lhe mandara fazer, tive uma espécie de epifania.
A minha imaginação fervilhava com ideias para jogos e quis aprender mais. Li avidamente todo o manual e consegui fazer um jogo do tipo Arkanoid. Quando falei ao meu pai que tinha feito um jogo e o convidei a vir experimentá-lo, ele ficou algo incrédulo. Mas assim que começou a jogá-lo, olhou para mim com ar de espanto: “Tu fizeste mesmo isto”? Eu disse-lhe que sim. Ao ver a minha paixão por aquele computador, o meu pai alimentou-a com mais livros que ia comprando aqui e ali. Eu devorava-os a todos.
O primeiro foi “49 explosive games for the ZX Spectrum” de Tim Hartnell, um excelente livro com jogos de todos os tipos.
Seguiram-se outros: “Creating Adventure Programs on the ZX Spectrum” de Peter Shaw e James Mortleman, com aventuras baseadas em texto ao estilo do “The Hobbit”; “60 games and applications for the ZX Spectrum” de David Harwood e “13 games for the ZX Spectrum” de Martin Wren-Hilton.
Mais tarde, recebi também o “Exploring Spectrum Basic” de Mike Lord, que com os truques que me ensinou, permitiu que desse um salto qualitativo nos meus programas.
Aos poucos, conceitos como matrizes, vetores, binários, lógica booleana, arquitetura de computadores e programação foram moldando o meu cérebro.
Porque também tenho algum jeito para desenho, lembro-me de trabalhar no “Art Studio” e construir loading screens para os meus jogos, para além de idealizar e fazer todos os gráficos utilizados: pegar em papel quadriculado, desenhar os gráficos em quadrados de 8 por oito, converter cada linha para binário e introduzir os gráficos no computador sob a forma de UDG (User defined Graphics).
Os computadores de oito bits podem estar ultrapassados... podem ser verdadeiras relíquias cheias de pó para os pré-adolescentes de hoje... mas têm os seus encantos. Os limites tecnológicos de então tinham de ser compensados com a imaginação de quem os utilizava.