domingo, dezembro 26, 2021

Audiolivro "Balada da Neve" de Augusto Gil (Português Europeu - Portugal)


Porque já estamos no inverno, sabe bem ouvir a "Balada da Neve" de Augusto Gil.
Lembro-me de ouvir este poema recitado pelo meu professor de Educação Visual na Escola Secundária Rainha Santa Isabel. Salvo erro, o nome dele, curiosamente, era Roque Leite Pires.

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

domingo, outubro 03, 2021

"Cântico do Irmão Sol" de S. Francisco de Assis

S. Francisco de Assis (1181? - 1226) compôs o "Cântico do Irmão Sol" em 1225 enquanto estava doente, na companhia de Santa Clara, na igreja de S. Damiano.


Lá no alto, todo-poderoso, bom Senhor,
para ti vão os louvores, a glória e a honra,
e todas as bênçãos.
A ti só, Altíssimo, eles são devidos;
e nenhum home é digno de pronunciar o teu nome.

Louvado sejas, Senhor meu, com todas as tuas criaturas:
especialmente monsenhor irmão sol
que dá o dia e com o qual tu nos iluminas;
ele é belo e radioso e de grande esplendor:
de ti, Altíssimo, ele é o símbolo.

Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã lua e por todas as estrelas:
no céu tu as criaste, luminosas, preciosas e belas.

Louvado sejas, Senhor meu, pelo irmão vento,
pelo ar e pelas nuvens, e o céu puro, e todos os climas,
com os quais ajudas as tuas criaturas.

Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã água,
que é tão útil e humilde, preciosa e casta.

Louvado sejas, Senhor meu, pelo irmão fogo,
com que iluminas a noite;
ele é belo e alegre, vigoroso e forte.

Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã nossa mãe a terra,
que nos suporta e nos alimenta,
e produz frutos diversos com flores de mil cores, e a erva.


Louvado sejas, Senhor meu, por aqueles que perdoam por amor de ti,
e suportam dores e aflições;
bem-aventurados os que persistem na paz,
pois por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte a que nenhum homem vivo pode escapar.
Desgraçados aqueles que morrem em estado de pecado mortal corporal!
Bem-aventurados aqueles que ela irá encontrar conformes com as tuas santíssimas vontades,
porque a segunda morte não lhes fará qualquer mal.

Louvai e bendizei o meu Senhor e rendei-lhe graças, e servi-o com grande humildade.

quarta-feira, setembro 29, 2021

Sir Clive Sinclair mudou a minha vida

No dia 16 de setembro de 2021, faleceu Sir Clive Sinclair, vítima de doença prolongada. Com certeza encontrará muitos vídeos no YouTube sobre a sua vida e as suas invenções. Este vídeo é diferente. É uma abordagem pessoal. Revela que uma das invenções de Sir Clive Sinclair conseguiu modificar a minha vida para sempre. Passo a explicar.

Falo, claro está, do ZX Spectrum, lançado no dia 23 de abril de 1982. Doze dias antes eu tinha celebrado o meu oitavo aniversário. No entanto, só cinco anos mais tarde é que consegui convencer os meus pais a oferecerem-me um clone do ZX Spectrum: o Timex Computer 2068. Certamente que a influência veio do meu vizinho de baixo. Lembro-me de ir a casa dele e de jogarmos jogos como “Commando”, “Monty on the Run”, “Chase H.Q.”, “Saboteur”, “Thanatos”, “Bruce Lee” ou “Nigel Mansel’s Grand Prix”. Mas cedo percebi que gostava mais de ver jogar do que jogar. Assim, como não tinha muito jeito para os jogos, comecei a ler o manual de programação BASIC que acompanhava o computador.

Algures no tempo, devo ter-me sentado em frente ao computador, inserido as instruções de um programa qualquer e de tê-lo posto a correr. Quando vi o computador a executar aquilo que eu lhe mandara fazer, tive uma espécie de epifania.

A minha imaginação fervilhava com ideias para jogos e quis aprender mais. Li avidamente todo o manual e consegui fazer um jogo do tipo Arkanoid. Quando falei ao meu pai que tinha feito um jogo e o convidei a vir experimentá-lo, ele ficou algo incrédulo. Mas assim que começou a jogá-lo, olhou para mim com ar de espanto: “Tu fizeste mesmo isto”? Eu disse-lhe que sim. Ao ver a minha paixão por aquele computador, o meu pai alimentou-a com mais livros que ia comprando aqui e ali. Eu devorava-os a todos.

O primeiro foi “49 explosive games for the ZX Spectrum” de Tim Hartnell, um excelente livro com jogos de todos os tipos.

Seguiram-se outros: “Creating Adventure Programs on the ZX Spectrum” de Peter Shaw e James Mortleman, com aventuras baseadas em texto ao estilo do “The Hobbit”; “60 games and applications for the ZX Spectrum” de David Harwood e “13 games for the ZX Spectrum” de Martin Wren-Hilton.

Mais tarde, recebi também o “Exploring Spectrum Basic” de Mike Lord, que com os truques que me ensinou, permitiu que desse um salto qualitativo nos meus programas.

Aos poucos, conceitos como matrizes, vetores, binários, lógica booleana, arquitetura de computadores e programação foram moldando o meu cérebro.

Porque também tenho algum jeito para desenho, lembro-me de trabalhar no “Art Studio” e construir loading screens para os meus jogos, para além de idealizar e fazer todos os gráficos utilizados: pegar em papel quadriculado, desenhar os gráficos em quadrados de 8 por oito, converter cada linha para binário e introduzir os gráficos no computador sob a forma de UDG (User defined Graphics).

Os computadores de oito bits podem estar ultrapassados... podem ser verdadeiras relíquias cheias de pó para os pré-adolescentes de hoje... mas têm os seus encantos. Os limites tecnológicos de então tinham de ser compensados com a imaginação de quem os utilizava.

sábado, setembro 11, 2021

Reviewing Pentel GraphGear 500 PG515 0.5

Audiolivro - "Livro de Mágoas" de Florbela Espanca (Português Europeu -...

Já falei noutro post que a M. S. "apresentou-me" à poesia de Florbela Espanca.
Desta feita, resolvi convertê-lo para audiolivro.

"Livro de Mágoas" de Florbela Espanca foi publicado originalmente em 1919, tendo sido a sua primeira obra poética.
Florbela Espanca (1894 - 1930) é uma das mais importantes poetisas portuguesas.


sexta-feira, julho 30, 2021

Audiolivro - "A Invenção do Dia Claro" de Almada Negreiros (Português ...

Desta vez, foi uma descoberta para mim. Confesso que nunca tinha lido nada de Almada Negreiros.

No entanto, "A Invenção do Dia Claro" não me era totalmente estranho. Depois de matutar, descobri que é um álbum homónimo dos Capitão Fausto.


Se tivesse de escolher um excerto da obra de Almada Negreiros, seria este:

+A FLOR+

—«Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée. Je donne toute ma mesure, tous mes moyens. Et après, si ce que j'ai fait n'est pas bon, je n'en suis plus responsable; c'est que je ne peux vraiement pas faire mieux.»

Henri Matisse.

Pede-se a uma creança. Desenhe uma flor! Da-se-lhe papel e lapis. A creança vae sentar-se no outro canto da sala onde não ha mais ninguem.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas n'uma direcção, outras n'outras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais faceis, outras mais custosas. A creança quiz tanta força em certas linhas que o papel quasi que não resistiu.

Outras eram tão delicadas que apenas o pezo do lapis já era demais.

Depois a creança vem mostrar essas linhas ás pessôas: Uma flôr!

As pessôas não acham parecidas estas linhas com as de uma flôr!

Comtudo, a palavra flôr andou por dentro da creança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, á procura das linhas com que se faz uma flôr, e a creança pôz no papel algumas d'essas linhas, ou todas. Talvez as tivesse pôsto fóra dos seus logares, mas, são aquellas as linhas com que Deus faz uma flôr!


quinta-feira, julho 22, 2021

Now We Are Free

Se há uma música que me faz arrepiar dos pés à cabeça sempre que a oiço, é esta: "Now We Are Free" composta por Hans Zimmer.

Muita da culpa desses arrepios é a voz de Lisa Gerrard, que atravessa seguramente três oitavas.

Comprovem por vocês mesmos...

domingo, junho 27, 2021

Atingi a meta dos 100 subscritores no YouTube!

Cerca de um ano depois de ter ressuscitado o meu canal do YouTube, eis que chego à meta dos 100 subscritores! Muito obrigado pelo vosso apoio!

A próxima meta é a dos 1000 subscritores. Se conseguir lá chegar, aparecerei em alguns dos vídeos, para uma conversa olhos nos olhos.

sábado, maio 22, 2021

Moeda Comemorativa do Jacobeu 2021-2022

Já abordei o tema de Santiago de Compostela noutro post.

Para mim, tudo começou no agora longínquo ano de 1999 quando fiz a minha peregrinação desinteressada a Santiago de Compostela que, literalmente, mudou a minha vida.

O dia de Santiago de Compostela, instituído pelo papa Calixto II, é celebrado a 25 de julho, dia em que a última pedra da Sé Catedral de Compostela foi colocada, no ano de 1126. Quando essa data calha a um domingo, celebra-se um ano especial, denominado Jacobeu (ou Xacobeo, em galego).

1999 foi ano Jacobeu e, depois disso, 2004, 2010 e agora, 2021, volvidos 11 anos desde o último Jacobeu. É também o 120º Jacobeu da história. Mais especial ainda, devido à situação de pandemia, este Jacobeu será pela primeira vez celebrado durante dois anos. O meu filho, que tem Santiago no nome, viverá o seu primeiro Jacobeu este ano.

Por todos estes motivos, resolvi adquirir uma moeda comemorativa do Jacobeu de 2021-2022. Se estiver interessado, encontra-a aqui: https://cartemcoins.com/producto/moneda-xacobeo-2021/

quinta-feira, maio 13, 2021

Audiolivro - "O Suave Milagre!" de Eça de Queiroz (Português Europeu - ...

Num dia tão especial como é o 13 de maio, deixo-vos o último conto escrito por Eça de Queiroz, dois anos antes da sua morte: "O Suave Milagre!". Foi publicado originalmente em 1898 na "Revista Moderna".

sexta-feira, maio 07, 2021

Unboxing do PIOR Lápis do Mundo!

No site da VIARCO pode ler-se:


A origem do fabrico de lápis em Portugal remonta ao ano de 1907 quando o Conselheiro Figueiredo Faria juntamente com o seu sócio o Engenheiro Francês Jules Cacheux decidem construir em Vila do Conde uma unidade industrial de fabrico de lápis designada por “Faria, Cacheux & Cª” também conhecida como Portugália.

 

Apesar da Portugália ter sido pioneira e bem sucedida no desenvolvimento e produção de artigos de escrita no país, pensa-se que a sua atividade terá sido gravemente afetada com a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial e, principalmente, pela Grande Depressão de 1929/31.

 

A viragem dá-se em 1931 quando Manoel Vieira Araújo, industrial experiente da chapelaria e figura proeminente de S. João da Madeira, decide diversificar o ramo de atividade da Vieira Araújo & Cª, Lda, e adquire a Fábrica Portuguesa de Lápis.

 

No ano de 1936 é registada a marca que acompanharia gerações de portugueses até aos dias de hoje – Viarco.


Quanto a este DUMMY PENCIL, o "pior lápis do mundo", a Viarco diz o seguinte...


"Dummy" provém do inglês e significa idiota, estúpido, objeto falso ou simulado. E esta é realmente a essência deste lápis: um objeto falso sem qualquer tipo de utilidade aparente.


A ideia da sua produção nasce da vontade de brincar e de pregar partidas aos outros, comportamentos típicos e naturais nas crianças e, assim, criar um objeto descontraído que nos permita rir dos outros e de nós próprios.


É também uma forma de “gozar” com uma atualidade onde os produtos/empresas lutam ferozmente, tendo por base o pressuposto de que “só os melhores vencerão”. Dummy Pencil é um objeto realista, em tudo igual a um lápis verdadeiro, com a particularidade de não escrever e de deixar desconcertado a vítima da sua utilização.


quarta-feira, maio 05, 2021

Dia Mundial da Língua Portuguesa

Neste dia tão especial para todos os portugueses e para todos aqueles que, espalhados pelo mundo, falam português (com sotaque, com sal ou com açúcar), deixo-vos uma sugestão.

Ouçam os audiolivros com contos de Eça de Queiroz que publiquei no meu canal do YouTube: "O Tesouro", "O Defunto", "A Aia" e o "Mandarim".






Em breve colocarei as restantes partes do conto "O Mandarim".










quarta-feira, abril 21, 2021

"Mensagem" de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (1888-1935) é um dos principais poetas portugueses.

Li recentemente o seu livro "Mensagem", o único livro de poemas em português. Foi editado pela primeira vez em 1934.

Descobri alguns dos poemas e versos que se tornaram famosos, dos quais destaco:

  • Poema O INFANTE: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"
  • Poema O MOSTRENGO
  • Poema MAR PORTUGUÊS: "Ó mar salgado, quanto do teu sal [São lágrimas de Portugal!" e "Valeu a pena? Tudo vale a pena [Se a alma não é pequena."
Encontrei uma versão da "Mensagem" em domínio público, no formato PDF.

Também lancei no meu canal do YouTube a versão da "Mensagem" em audiolivro:

domingo, abril 18, 2021

Um novo projeto... acompanha-me?

 Já faz algum tempo, quase um ano, que comecei a criar conteúdos regulares no YouTube.

O tempo passou e, neste momento, tenho 115 vídeos introduzidos, que se traduziram em 10.751 visualizações e 68 subscritores.

O meu canal tem coisas que eu gosto de fazer: desenhar, pintar, podcasts e reviews de tecnologia.

Se gostar do que vir, por favor considere subscrever!

https://www.youtube.com/channel/UCDGSmFfhFJKhWJLyuhV_FLg/featured


Audiolivro - Poemas de Luiz Vaz de Camões (Português Europeu - Portugal)

Seleção pessoal de 22 poemas de Luiz Vaz de Camões (Luís Vaz de Camões na grafia moderna). Luiz Vaz de Camões (1524-1580) é o grande poeta d...