O "jamais" do título deve ser pronunciado como "já-mé", ao estilo françuguês.
Que alívio! Tinha prometido aos meus amigos que cometeria uma coisa mázinha contra mim mesmo se Sócrates vencesse novamente com maioria absoluta. As maiorias absolutas são um pseudo-contra-senso dentro da democracia quando mal utilizadas (que foi mais ou menos o que aconteceu nos últimos anos).
O PSD não teve uma líder carismática à altura de Sócrates e o seu discurso não reflectiu as verdadeiras preocupações dos portugueses. Como tal, ganharam os partidos que ressaltaram de uma forma ou de outra os pontos fulcrais da má governação de Sócrates, apresentando de forma clara as alternativas que defendem. Falo, claro está, do CDS-PP e do Bloco de Esquerda. São partidos pequenos mas que têm crescido muito à custa do trabalho de casa bem feito.
A CDU continua a "conseguir fazer bastantes omeletes com poucos ovos" (Marcelo Rebelo de Sousa dixit). Esta frase retrata, na sua essência, a forma como um partido que, tendo ficado em último lugar no rol de partidos com assento parlamentar consegue, mesmo assim, aumentar o número de votantes e o número de deputados.
Os próximos tempos não serão fáceis para Sócrates e para a sua equipa. As contas da estabilidades são complexas: governos maioritários com o PSD (reavivando o bloco central), com o CDS-PP (duas personalidades bastante fortes e difíceis de conjugar) ou com os dois partidos de esquerda juntos (tendo de aguentar com o ódio visceral entre o Bloco de Esquerda e a CDU). Será que Sócrates tem uma faceta diplomata que ainda não revelou ou vai continuar igual a si próprio? Só o futuro o dirá.
Espero que não seja Portugal a pagar a factura do desentendimento entre os partidos. É nesta altura que todos eles deverão pensar mais no futuro e deixarem de olhar para os seus próprios umbigos.
Um blog de Vítor Carvalho.
Algumas reflexões sobre acessibilidade, usabilidade e design para a Web, ideias, desabafos, viagens, humor, crítica e fotografias...
segunda-feira, setembro 28, 2009
quarta-feira, setembro 23, 2009
Redesign: Totalmente Novo vs. Familiar
O último post de Jakob Nielsen tem algumas ideias interessantes.
"Os utilizadores detestam mudanças. Por isso, é geralmente melhor continuar com o design familiar e evoluir gradualmente. Contudo, a longo prazo, o incrementalismo destrói a coerência, necessitando por isso de uma nova arquitectura de Interface para o Utilizador (IU)".
Ouve-se muitas vezes os gestores pedirem um "novo design". Isto conduz geralmente a um projecto com objectivos e estratégias errados.
Tipicamente, um design totalmente novo será um pior design, simplesmente porque é novo, quebrando as expectativas dos utilizadores. Uma melhor estratégia é optar pela familiaridade, construindo o novo design no conhecimento existente nos utilizadores de como funciona um sistema.
Porque é que a equipa quer um novo design?
Porque geralmente as equipas passam literalmente a vida a olhar para o site que desenvolvem. É natural que se ache o design cansativo. O utilizador típico, pelo contrário, só passou algumas horas nos últimos anos a olhar para esse mesmo design. Uma das Leis de Jakob sobre a experiência dos utilizadores na Internet diz-nos que "os utilizadores passam a maior parte do tempo noutros sites".
Porque é que os utilizadores querem um design familiar?
A razão mais importante? Os utilizadores não querem saber do design per se; querem fazer as coisas que têm a fazer e sair. As pessoas normais não adoram ficar sentadas em frente a um computador. Preferem antes assistir a um jogo de futebol, passear o cão, etc.
Quando as pessoas visitam um sítio Web ou utilizam aplicações, não passam o seu tempo a analisar ou admirar o design. Focam a sua atenção nas tarefas, no conteúdo e nos seus próprios dados ou documentos.
Por isso, as pessoas gostam de um design quando sabem as suas funcionalidades e conseguem localizar imediatamente aquelas de que precisam. Por outras palavras, gostam de um design familiar.
De facto, cada vez que se faz um redesign, deve estar-se preparado para uma inundação de emails de clientes zangados. É uma lei da natureza: os utilizadores odeiam mudanças e queixam-se cada vez que se muda alguma coisa ou quando se reduz a sua capacidade de fazer aquilo que sempre fizeram.
(Ter utilizadores a queixarem-se de um redesign não quer dizer necessariamente que é mau. Se o novo design tiver melhor usabilidade, as pessoas eventualmente começarão a gostar dele. As queixas dos clientes não são razão para se evitarem todos os redesign; são simplesmente uma razão para evitar mudanças no design unicamente para "ficar novo".)
Quando se deve mudar um design?
Geralmente é melhor evoluir a IU com mudanças subtis do que apresentar um design totalmente novo. Nielsen recomenda que primeiro se obtenha o design básico efectivo antes do seu lançamento, para que possa viver durante vários anos com updates pequenos. Antes de disponibilizar um design aos consumidores, devem ser utilizadas técnicas como "design rápido iterativo" e "prototipagem em papel" para explorar convenientemente o espaço de design e polir a usabilidade.
Esta abordagem contrasta com a de simplesmente "atirar qualquer coisa à parede para ver se cola". De facto, algumas pessoas advogam que se deve disponibilizar a nossa melhor aposta porque a beleza da web é que se pode sempre mudar quando alguma coisa está errada. Isto é verdade mas será impopular porque:
"Os utilizadores detestam mudanças. Por isso, é geralmente melhor continuar com o design familiar e evoluir gradualmente. Contudo, a longo prazo, o incrementalismo destrói a coerência, necessitando por isso de uma nova arquitectura de Interface para o Utilizador (IU)".
Ouve-se muitas vezes os gestores pedirem um "novo design". Isto conduz geralmente a um projecto com objectivos e estratégias errados.
Tipicamente, um design totalmente novo será um pior design, simplesmente porque é novo, quebrando as expectativas dos utilizadores. Uma melhor estratégia é optar pela familiaridade, construindo o novo design no conhecimento existente nos utilizadores de como funciona um sistema.
Porque é que a equipa quer um novo design?
Porque geralmente as equipas passam literalmente a vida a olhar para o site que desenvolvem. É natural que se ache o design cansativo. O utilizador típico, pelo contrário, só passou algumas horas nos últimos anos a olhar para esse mesmo design. Uma das Leis de Jakob sobre a experiência dos utilizadores na Internet diz-nos que "os utilizadores passam a maior parte do tempo noutros sites".
Porque é que os utilizadores querem um design familiar?
A razão mais importante? Os utilizadores não querem saber do design per se; querem fazer as coisas que têm a fazer e sair. As pessoas normais não adoram ficar sentadas em frente a um computador. Preferem antes assistir a um jogo de futebol, passear o cão, etc.
Quando as pessoas visitam um sítio Web ou utilizam aplicações, não passam o seu tempo a analisar ou admirar o design. Focam a sua atenção nas tarefas, no conteúdo e nos seus próprios dados ou documentos.
Por isso, as pessoas gostam de um design quando sabem as suas funcionalidades e conseguem localizar imediatamente aquelas de que precisam. Por outras palavras, gostam de um design familiar.
De facto, cada vez que se faz um redesign, deve estar-se preparado para uma inundação de emails de clientes zangados. É uma lei da natureza: os utilizadores odeiam mudanças e queixam-se cada vez que se muda alguma coisa ou quando se reduz a sua capacidade de fazer aquilo que sempre fizeram.
(Ter utilizadores a queixarem-se de um redesign não quer dizer necessariamente que é mau. Se o novo design tiver melhor usabilidade, as pessoas eventualmente começarão a gostar dele. As queixas dos clientes não são razão para se evitarem todos os redesign; são simplesmente uma razão para evitar mudanças no design unicamente para "ficar novo".)
Quando se deve mudar um design?
Geralmente é melhor evoluir a IU com mudanças subtis do que apresentar um design totalmente novo. Nielsen recomenda que primeiro se obtenha o design básico efectivo antes do seu lançamento, para que possa viver durante vários anos com updates pequenos. Antes de disponibilizar um design aos consumidores, devem ser utilizadas técnicas como "design rápido iterativo" e "prototipagem em papel" para explorar convenientemente o espaço de design e polir a usabilidade.
Esta abordagem contrasta com a de simplesmente "atirar qualquer coisa à parede para ver se cola". De facto, algumas pessoas advogam que se deve disponibilizar a nossa melhor aposta porque a beleza da web é que se pode sempre mudar quando alguma coisa está errada. Isto é verdade mas será impopular porque:
- estará a maltratar os utilizadores submetendo-os a um design com falhas que poderia ter sido consertado em poucos dias antes de ser disponibilizado;
- irá antagonizar os utilizadores fazendo-os sofrer com as mudanças que sabemos que irão detestar.
- Se não tiver quase nenhuns utilizadores e esperar que a melhoria no design venha a expandir o número desses utilizadores. Neste caso, a punição dos poucos utilizadores existentes pode ser compensada pela aquisição de novos utilizadores. Lembre-se contudo da máxima: um pássaro na mão é melhor que dois a voar.
- Se o seu design antigo foi evoluindo incrementalmente durante muitos anos fazendo com que a experiência geral dos utilizadores regredisse e perdesse qualquer sentido de estrutura conceptual unificadora.
terça-feira, setembro 22, 2009
Esmiuçar os Sufrágios
As entrevistas com os líderes dos principais partidos que concorrem às próximas legislativas acabou. Os Gatos tiveram uma excelente ideia ao criarem um programa que alia o humor à política... afinal de contas, humor e política nunca andaram muito afastados.
Depois de ver as 5 entrevistas (Sócrates, Manuela, Portas, Louçã e Jerónimo), não restam dúvidas para mim que os mais autênticos, com mais sentido de humor e que, a abono da verdade, fizeram rir Ricardo Araújo Pereira foram a Manuela Ferreira Leite e o Jerónimo de Sousa. Sócrates estava tenso e contornava as perguntas, Portas estava pouco à vontade e aproveitou para fazer campanha e Louçã não conseguiu afastar o seu ar de ressabiado.
É interessante ver esta faceta dos políticos que temos. Muitos aliam o sentido de humor à inteligência superior e, logo, este poderá ser mais um indício na altura de escolher em quem se vota.
Depois de ver as 5 entrevistas (Sócrates, Manuela, Portas, Louçã e Jerónimo), não restam dúvidas para mim que os mais autênticos, com mais sentido de humor e que, a abono da verdade, fizeram rir Ricardo Araújo Pereira foram a Manuela Ferreira Leite e o Jerónimo de Sousa. Sócrates estava tenso e contornava as perguntas, Portas estava pouco à vontade e aproveitou para fazer campanha e Louçã não conseguiu afastar o seu ar de ressabiado.
É interessante ver esta faceta dos políticos que temos. Muitos aliam o sentido de humor à inteligência superior e, logo, este poderá ser mais um indício na altura de escolher em quem se vota.
quinta-feira, setembro 03, 2009
Cara de Pau
A política é um terreno verdadeiramente pantanoso. Tem os seus encantos, é verdade. Pode ser útil em prol de um país se for bem feita, é verdade. Contudo, a maior parte das vezes é mal feita por maus políticos. Uma das características dos maus políticos é a cara de pau com que fazem determinado tipo de afirmações.
Ouvir as recentes afirmações de José Sócrates e de Maria de Lurdes Rodrigues acerca do diálogo não conseguido com os Professores, batendo no peito e dizendo "mea culpa" soou a (e foi mesmo) propaganda eleitoralista.
Uma classe quase inteira (cento e tal mil de cento e quarenta mil) professores esteve na rua a manifestar-se contra as leis do governo. Nessa altura, José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues não quiseram dialogar. Entretanto perderam as eleições europeias e estamos perto das eleições legislativas. Sócrates fez bem as contas e sabe que cento e tal mil votos poderão ser preciosos. Por isso, há que tentar apanhar alguns tolos com papas e bolos, retratando-se e abrindo vagas para mil professores do ensino especial.
Será que é suficiente para os professores se esquecerem de tudo o que este governo fez de errado? Será que é suficiente para esquecer que só se abriram 400 vagas para os quadros no último concurso de professores deixando de fora 15.000 professores com contratos precários de trabalho, ganhando menos do que merecem pelo menos durante mais quatro anos? Será que é suficiente para apagar a ideia de um governo autista que não ouve os seus parceiros e em que todas as opiniões são de descartar quando não são a favor do governo?
O dia das eleições legislativas provará se os portugueses (incluindo os professores) têm ou não fraca memória e se são tolos ao ponto de se deixarem enganar por papas e bolos, mesmo que estes cheirem a pântano.
Hoje, em notícia de última hora, soube-se da demissão em bloco dos directores de informação da TVI. Pouco depois de Sócrates ter proferido que o Jornal de Sexta-Feira da TVI era um ataque pessoal a si, o Director da TVI foi afastado do cargo. Hoje a direcção da TVI decidiu acabar com o Jornal de Sexta-Feira da TVI, motivando a direcção de informação a tomar aquela medida. Mais do tal pântano.
Ouvir as recentes afirmações de José Sócrates e de Maria de Lurdes Rodrigues acerca do diálogo não conseguido com os Professores, batendo no peito e dizendo "mea culpa" soou a (e foi mesmo) propaganda eleitoralista.
Uma classe quase inteira (cento e tal mil de cento e quarenta mil) professores esteve na rua a manifestar-se contra as leis do governo. Nessa altura, José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues não quiseram dialogar. Entretanto perderam as eleições europeias e estamos perto das eleições legislativas. Sócrates fez bem as contas e sabe que cento e tal mil votos poderão ser preciosos. Por isso, há que tentar apanhar alguns tolos com papas e bolos, retratando-se e abrindo vagas para mil professores do ensino especial.
Será que é suficiente para os professores se esquecerem de tudo o que este governo fez de errado? Será que é suficiente para esquecer que só se abriram 400 vagas para os quadros no último concurso de professores deixando de fora 15.000 professores com contratos precários de trabalho, ganhando menos do que merecem pelo menos durante mais quatro anos? Será que é suficiente para apagar a ideia de um governo autista que não ouve os seus parceiros e em que todas as opiniões são de descartar quando não são a favor do governo?
O dia das eleições legislativas provará se os portugueses (incluindo os professores) têm ou não fraca memória e se são tolos ao ponto de se deixarem enganar por papas e bolos, mesmo que estes cheirem a pântano.
Hoje, em notícia de última hora, soube-se da demissão em bloco dos directores de informação da TVI. Pouco depois de Sócrates ter proferido que o Jornal de Sexta-Feira da TVI era um ataque pessoal a si, o Director da TVI foi afastado do cargo. Hoje a direcção da TVI decidiu acabar com o Jornal de Sexta-Feira da TVI, motivando a direcção de informação a tomar aquela medida. Mais do tal pântano.
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