sexta-feira, dezembro 29, 2006

Viagem a Setúbal (Parte II)

Depois do almoço no Pizza Hut do Continente de Leiria, fizémo-nos de novo à estrada.

Ao virar uma curva, sou surpreendido por um monumento... só tive tempo de dizer "Uou!". A A. M. disse: "É o Mosteiro da Batalha"!

O Convento de Santa Maria da Vitória (também conhecido como Mosteiro da Batalha), situa-se na Batalha, Portugal e foi mandado edificar por D. João I, como agradecimento do auxílio divino e celebração da vitória na Batalha de Aljubarrota. Em 1388 já ali viviam os primeiros Dominicanos.

"Temos de parar aqui"! - disse eu. Estacionámos o carro nesta pequena vila, onde a macrocefalia é de certeza o Convento de Santa Maria da Vitória... porque pouco mais há para além deste.

A primeira coisa em que se repara, é na estátua equestre de D. Nuno Álvares Pereira.

O Convento é simplesmente impressionante. O seu traçado combina vários estilos: gótico, manuelino e revivalista (neo-gótico).

No seu interior, visitámos a Capela do Fundador, onde se encontram sepultados D. João I e D. Filipa de Lencastre, num túmulo que ocupa a parte central da capela. À sua volta, também se encontram sepultados em nichos nas paredes: o regente D. Pedro e D. Isabel de Aragão, sua mulher; D. Henrique, o Navegador; D. João; D. Fernando, o Infante Santo; D. Afonso V, D. João II e Infante D. Afonso. Os vitrais são simplesmente magníficos. Têm, na sua decoração, motivos heráldicos.

O Interior do convento é dominado pelo seu traçado esguio e vertical. Faz-nos sentir verdadeiramente a magestuosidade do local.

Sem dúvida alguma, uma visita que recomendo.

Tudo isto auspiciava um fim-de-semana em pleno... se a viagem já nos tinha dado tanto de bom!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Viagem a Setúbal (Parte I)

Há quinze dias atrás, no fim-de-semana, parti à descoberta de Setúbal. A época do ano parece improvável para férias, mas a verdade é que se escapa às confusões do costume e o tempo até ajudou a tornar o passeio bastante agradável.

Não dei descanso à minha máquina fotográfica e, em virtude disto, resolvi repartir a minha reportagem por vários posts.

A primeira paragem foi em Leiria, para uma visita fugaz ao seu castelo.

Este mostra-se imponente e domina toda a paisagem circundante em virtude da sua localização elevada. Foi mandado erigir por D. Afonso Henriques, cerca de 1135.

A porta de entrada faz juz ao imaginário sobre portas de castelos, com o seu ferrolho de grandes dimensões.


Devido à proximidade da hora de almoçar, não pude ir muito mais além que a Recepção. Fica prometida uma segunda visita a Leiria... o Castelo parece merecer...


sexta-feira, dezembro 22, 2006

É Natal!

Desde que me lembro, o Natal em minha casa é vivido de forma festiva. A sala veste-se sumptuosamente para esta ocasião, com os arranjos que eu e o meu pai lhe fazemos.

Antigamente, sofria com a espera até ao Natal por causa dos presentes... hoje encontro mais prazer em dar do que receber. Parece uma frase feita, mas é isto mesmo que sinto.

O prato de bacalhau com batatas, sempre bom, tem nessas noites um gosto especial.

Ontem à noite decidi imortalizar, em fotografia, parte da decoração de Natal. Liguei as luzes normais da sala, dispensei o flash e não dispensei o tripé... o resultado, é o que podem observar abaixo. Sintam-se livres para utilizarem estas imagens nos vossos postais electrónicos.

E já agora... Bom Natal! ;)

As figurinhas do presépio

A Árvore de Natal

Um pormenor da decoração da Árvore de Natal

Um Pai Natal saxofonista

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Finisterra

Pois é... tenho andado um pouco ausente da esfera bloguista, mas isto tem as suas justificações:
  • Aos fins-de-semana tenho tirado umas mini-férias;
  • Durante a semana, o trabalho acumulado não me deixa pensar em mais nada. Leia-se: é necessário acabar muita coisa antes do fim do ano.

Numa dessas mini-férias, mais concretamente há três semanas atrás, desloquei-me ao Cabo Finisterra.

Por volta das 9:30 saímos do Porto (eu, a A. M., o meu amigo N. B. e a sua namorada C.) e só parámos em Valença, para visitar a fortaleza (o N. B. e a C. não conheciam) e almoçar. Depois de recobradas as forças, aventurámo-nos pela Galiza adentro.

A caminho de Finisterra, houve uma paragem obrigatória: Santiago de Compostela. É evidente que quem vai a Santiago tem de visitar a Catedral!

Fazem parte dos rituais colocar a mão na coluna do pórtico da glória, dar três turras na cabeça da estátua que está por baixo dessa mesma coluna ao mesmo tempo que se pedem três desejos, abraçar a estátua de Santiago situada por trás do altar-mor e visitar o seu sepulcro.

Para quem não sabe, Santiago é São Tiago: um dos doze apóstolos de Jesus Cristo e, juntamente com Pedro e João, um dos seus apóstolos preferidos (Pedro, Tiago e João fizeram companhia a Jesus no jardim do Getsêmani, pouco antes da sua paixão).

Tudo isto para dizer que, visitar Santiago de Compostela, é uma experiência mística, espiritual e cultural bastante enriquecedora.

Dignas de visita são também as ruas pitorescas de Santiago. O comércio gira muito à volta do turismo religioso. É fácil perdermo-nos nas lembranças que se vendem por lá. Passe também pelo Museu de Arte Contemporânea, obra do arquitecto português Álvaro Siza Vieira.

Já se fazia tarde e lá seguimos rumo a Finisterra. Ficámos hospedados em Langosteira, uma pequena localidade perto de Finisterra, conhecida pela sua praia. Aí pernoitámos depois de termos comido uma espécie de fast food num barzito.

Pela manhã, partímos à descoberta de Finisterra. Nem calculam como é difícil encontrar um sítio para se tomar o pequeno-almoço! Ao fim de muito procurarmos, decidimos comprar algumas coisas num supermercado e prepará-lo em casa!

Depois deste percalço, voltámos a Finisterra. Existe uma marina que mereceu a atenção da minha máquina fotográfica.

Visitar o Cabo Finisterra é também uma experiência fundamentalmente mística, cultural e espiritual. Por um lado, estamos num dos pontos mais ocidentais da península ibérica (o ponto mais ocidental é o Cabo da Roca, em Portugal). Por outro, este é o quilómetro zero do Caminho de Santiago. Os peregrinos passam pelo Cabo Finisterra para queimar as suas botas de peregrinação e, por vezes, as suas roupas. Existe mesmo um monumento à bota do peregrino, perto do farol de Finisterra.

A partir do Cabo Finisterra temos uma vista priveligiada sobre o Atlântico e sobre a baía de Finisterra.

Visitámos também o Cabo Muxia, onde ficámos impressionados com a Igreja de Santa Maria (Virgem da Barca), de frente para o mar e muito próxima dele. Existe também um monumento digno de destaque, chamado "A Ferida". Foi erigido em memória do naufrágio do barco Prestige, que prejudicou gravemente estas paragens em termos ecológicos, económicos e sociais.

A última paragem foi o Cabo Vilán, com o seu imponente farol. Lá perto também visitámos um enorme parque eólico (coisa que parece abundar cada vez mais nas paisagens da Galiza e de Portugal).

À noite cometemos uma pequena loucura: jantámos numa célebre marisqueira da região "O Centolo". O restaurante deve o seu nome a uma rocha situada em frente ao Cabo Finisterra e que se diz ser responsável por inúmeros naufrágios. Não naufragámos na conta do restaurante, que até se mostrou adequada para o que comemos... estava tudo muito bom!

A viagem de regresso foi feita debaixo de muita chuva, mas ficou o desejo de voltar rapidamente à Galiza... para visitar outras localidades pitorescas.

terça-feira, novembro 21, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo VIII

- Chega! É demais! Agora também entram extraterrestres? Entram, mas não na minha oficina! Xô! Andor! Fora daqui, mar de gente e extraterrestre também! - gritou Godofredo Latinhas.

Quais cães explusos de uma confeitaria fina, todos saíram para a rua. Uma vez em domínios camarários e, por conseguinte, públicos, o povo de Vila Marmota e o recém-chegado extraterrestre, puderam continuar as suas vicissitudes.

- Um extraterrestre! Aqui connosco! - comentou emocionado Zé Bigodes - Afinal não estamos sózinhos! Vocês sabem o que isto significa?

- Significa que estás daqui a bocado a apanhar com uma sardinha no focinho, se não te calarares com esse paleio! - ameaçou Francisco Panças.

- Sim... sou um extraterrestre! E falo português! - disse o ex-louro.

- Engraçado! Pensei que os extraterrestres só falassem inglês! - disse dona Emília Genoveva Cerqueira de Castro Gumercinda de Miranda.

- Mentira! - corrigiu o ex-louro - A sociedade consumista norte-americana e, mais concretamente, a indústria cinematográfica, é que fez passar essa ideia às massas! De facto, posso garantir-vos que a maior parte dos extraterrestres tira nega a inglês! Gostamos mais da língua do vosso jardim à beira-mar plantado!

- Sim... pois... o que é que o senhor extraterrestre nos quer pedir? Só assim se consegue explicar esses salamaleques todos que você está a ter para connosco! - observou Olívia Manca.

- Muito perspicaz, menina Olívia Manca! De facto, eu gostava que todo o povo de Vila Marmota me acompanhasse até à lota do peixe! Preciso de fazer uma revelação muito importante!

- O mundo vai acabar? - perguntou Joselino Narigangas.

- Você vai acabar com o mundo? - perguntou Francisco Panças.

- Acompanhai-me e ficareis a saber! - respondeu o extraterrestre num tom intrigante.

As gentes de Vila Marmota percorreram as ruas estreitas que desaguavam na lota, hoje anormalmente deserta. As gaivotas, sobrevoando a área, pareciam adivinhar a impaciência e a tensão circundante. O extraterrestre colocou-se entre os caixotes de linguado, robalos e pescada, ficando rodeado pelo mar de gente logo de seguida.

- Eis pois que nos encontramos no local apropriado para a revelação que vou fazer.

- Que revelação é essa, extraterrestre?

O extraterrestre lançou um olhar que visava o infinito.

- Estou aqui por causa de Olívia Manca!

terça-feira, novembro 14, 2006

Vangelis e Jean Michel Jarre

Ultimamente ando numa onda de música electrónica... não da pastilhada que se faz ultimamente, mas dos primórdios da música electrónica. Isto pela mão de dois génios: Vangelis e Jean Michel Jarre.

No caso de Jean Michel Jarre, gosto principalmente dos seus primeiros trabalhos: "Oxygene" (1976) e "Equinoxe" (1978). De Vangelis, tenho ouvido fundamentalmente dois álbuns: "L' Apocalypse des Animaux" (1982) que serviu como banda sonora para um conjunto de filmes franceses sobre a vida selvagem e "1492 - The Conquest of Paradise" (1992) que é a banda sonora de um filme homónimo e, como estarão recordados, é também um dos meus filmes de culto.

Notam-se os experimentalismos e a procura de novos sons, espremendo as potencialidades dos instrumentos electrónicos, nestes dois artistas.

A música de Jean Michel Jarre cria ambientes siderais, mecanismos, exploração de outros planetas e civilizações alienígenas.

Vangelis, por outro lado, é muito mais orgânico. Mais do que ambientes, cria atmosferas... leva-nos à criação do mundo e à vida selvagem e tribal (em L' Apocalypse des Animaux), passando pelo desbravar do Novo Mundo e de novos povos (em 1492 - The Conquest of Paradise), cria um futuro obscuro, poluído e cibernético (em Blade Runner) e finaliza mexendo com as minhas entranhas, na música visceral "12 O' Clock". Vangelis também foi o responsável pela música de uma série televisiva de Carl Sagan: "Cosmos". No primeiro episódio de "Cosmos" (que revejo bastantes vezes), a música "Heaven and Hell" acompanha magistralmente a visão do oceano.

O desafio que faço ao meu fiel leitor, é que saia dos estereótipos das músicas destes compositores ("Fourth Rendezvous" de Jean Michel Jarre ou "Chariots of Fire" de Vangelis) e aventure-se pelos temas menos conhecidos.

sábado, novembro 11, 2006

Um novo roteiro: Resende

Hoje andei a fazer umas arrumações aqui por casa e encontrei um texto de ficção (com vários laivos de realidade) meu de 8 de Março de 1989. Fica aqui a sua transcrição, com alguns retoques cosméticos ao português utilizado...

"Era uma manhã calma de Março. Eu encontrava-me no peitoril da minha janela a ver o sol fazer o seu percurso rotineiro. Tal como ele, também eu tenho a minha rotina diária: levantar-me, lavar-me, vestir-me, comer e ir para o trabalho... mas naquele dia não! Era sábado! E ao sábado eu saio da rotina para ler, dar uns passeios à beira rio, ou então limitar-me a observar tudo o que passa à minha volta.

Resolvi tirar esse dia para visitar uma aldeia do interior. Fazer algo de diferente. O que eu queria era mudar.

Fiz uma pequena revisão ao carro e puz-me a caminho. O meu destino era Resende.

Meti-me na estrada para Entre-os-Rios e lá fui. O percurso total era de 100 quilómetros. A meio do caminho para Entre-os-Rios, parei para tomar o pequeno-almoço num café de beira de estrada. Eram nove horas da manhã e eu não gosto de guiar de estômago vazio.

Lá voltei a seguir viagem. Respirava o ar que, pela primeira vez em anos, se mostrou de uma frescura relaxante. Observava também a paisagem circundante em busca de coisas simples que, afinal, são as mais belas. Para além do canto dos pássaros, encontrei serpenteando por entre as encostas das montanhas, o Rio Douro. Ora azul, ora dourado, o rio apresentava-se com uma beleza ímpar. As igrejas e as pontes românicas despontavam aqui e ali. Os campos verdejantes escorriam desde o cume da montanha até à berma da estrada.

Por fim, cheguei a Entre-os-Rios. Antes de entrar na ponte, parei o carro e fui comprar umas rosquinhas que uma velha senhora vendia:

- Por favor, minha senhora, queria umas rosquinhas...
- Sim, sim! Quanto quer levar?
- Faça-me um quarto de quilo, sim?
- Muito bem... tome! São fresquinhas!
- Obrigado!

Meti-me no carro e dirigi-me a Resende.

De Entre-os-Rios até Resende, podem ver-se casas do século passado e locais em que o tempo parece ter parado há cem anos atrás: continuam a recorrer às tecnicas tradicionais de agricultura, os caminhos são feitos para carros-de-bois e as pessoas levam uma vida despreocupada.

Observei os pedreiros no meio do granito, a fracturá-lo em pequenos ou grandes bocados.

O rio Douro acompanhou-me sempre lá do fundo.


A estrada era agora quase sempre aos zês, pois haviam muitas tabuletas a avisar-nos para abrandarmos a marcha e avançarmos cautelosamente. Faltava-me pouco mais de cinco quilómetros para chegar a Caldas de Aregos. Eu estava "em pulgas" para chegar ao meu destino. Em Caldas de Aregos tornei a sair do carro para beber alguma coisa num café com pouco mais de cinco mesas. Caldas de Aregos é muito conhecida pelas termas que lá existem.

Próxima paragem: Resende. Felizmente para mim, de Caldas de Aregos a Resende são uns escassos dez quilómetros.

Quando lá cheguei, fiquei espantado com a simplicidade do lugar. Uma rua principal ramificava-se em ruas mais estreitas de onde nasciam casas mais ou menos novas. Uns tantos cafés, talhos, padarias, restaurantes e está uma vila feita! Parei o carro, saí e fui dar umas voltas pela povoação.

Um belo jardim muito limpo e florido, dava toda a sua beleza a quem por lá passasse e se sentasse à procura de descanço. Depois, virei a minha atenção para um lindo coreto. Por momentos, imaginei a banda a tocar.

Depois do almoço, parei no café "Cova Funda", para comprar as especialidades de Resende: as Cavacas e a Bola de Carne.

Segui depois em direcção ao Penedo de S. João. Daí, pode disfrutar-se de uma visão completa de Resende, Cinfães e de outras terras vizinhas.



O caminho de regresso não foi menos agradável. O pôr-do-sol empresta um tom bucólico às paisagens do douro vinhateiro.


Não hesito em recomendar este roteiro. Estou certo que cada um o apreciará à sua maneira"...


As viagens até Resende são das lembranças mais marcantes da minha infância: pelo encontro com os meus avós maternos, pela paisagem imensamente diferente daquela que me circundava no dia-a-dia e, pelos terríveis enjôos durante a viagem. As fotografias que acompanham esta narrativa têm, no máximo, três anos... reflectem o fascínio que ainda hoje sinto quando vou a Resende.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Blade Runner

Finalmente (quase) acabei a lista dos filmes que impreterivelmente queria possuir em formato DVD. Para os mais distraídos:
  • Alien - O Oitavo Passageiro (Ridley Scott)
  • 1492 - A Conquista do Paraíso (Ridley Scott)
  • O Nome da Rosa (Jean Jacques Annaud)
  • A Guerra do Fogo (Jean Jacques Annaud)
  • Gladiador (Ridley Scott)
  • Blade Runner (Ridley Scott)

Fica agora a faltar "As Misteriosas Cidades do Ouro" e, possivelmente, "Conan - O Rapaz do Futuro", duas séries de animação que gostei particularmente nos meus verdes anos. A primeira, ainda não existe em Portugal... a segunda, ainda está muito cara: as duas caixas custam cerca de €66.

Na semana passada, ficou disponível na FNAC, a um preço interessante, o DVD "Blade Runner".

Trata-se de um filme de ficção científica, realizado por Ridley Scott, em que se conta a estória de um Blade Runner (agente especializado no extermínio de robôs humanóides denominados Replicantes) chamado Deckard (Harrison Ford). Ele terá que encontrar e exterminar quatro Replicantes que desviaram uma nave espacial e voltaram à terra para encontrarem o seu criador.

O filme, produzido em 1982, consegue transmitir uma espécie de atmosfera futurista decadente: muita poluição, ambientes sombrios, proliferação de criaturas geneticamente modificadas. É um filme que vale a pena ver pela estética visual, pelos pormenores de realização e pela música magistral de Vangelis.

Aconselho também a que vejam o filme mais do que uma vez, porque irão com toda a certeza perceber melhor todo o enredo e algumas subtilezas aparentemente ocultas.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Ponte de Lima

Existem muitas boas razões que me ligam a Ponte de Lima. Embora me desloque frequentemente a esta pitoresca vila minhota, momentos há em que, por qualquer razão, se olhe para as coisas com outros olhos e se descubram pormenores outrora invisíveis... mesmo nos sítios em que já nos fartámos de passar.

A mais antiga vila de Portugal está a ser cuidadosamente preservada, com obras de requalificação merecedoras de uma atenta visita. O único senão que encontro nesta vila é o areal junto da ponte, utilizado como parque automóvel, desvirtuando o conjunto que se observa do outro lado do Lethes, o rio ancestral do esquecimento, mais conhecido por rio Lima.


A Ponte sobre o Rio Lima, é "formada por dois troços distintos, um romano e outro medieval. O séc. I é a altura mais provável da construção da Ponte Romana, visto por ela passar a via iniciada pelo Imperador Augusto. A Ponte Medieval de características góticas foi provavelmente concluída em 1370, integrando-se nas obras de fortificação da Vila mandadas fazer pelo Rei D. Pedro I, datando o calcetamento e a colocação dos merlões de 1504, por ordem de D. Manuel I, sendo originalmente flanqueada por duas torres demolidas na segunda metade do séc. XIX "por necessidades de tráfego" juntamente com grande parte do sistema defensivo urbado. A Ponte Romana, de configuração muito simples, apresenta um tabuleiro rampante assente sobre sete arcos de volta interia, sendo dois mais recentes, dispostos irregularmente e de diferentes vãos, encontrando-se um deles encoberto pelo maciço onde assenta a Igreja de Santo António e onde encosta o embasamento da Torre Velha, que separava as pontes. Dois dos dezassete arcos quebrados da Ponte Gótica, encontram-se soterrados pelos arranjos urbanísticos da Praça de Camões e um outro foi destruído na defesa da Vila contra o exército de Napoleão em 1809. Destacam-se os talhamares de forma prismática, encimados por olhais também de arco quebrado e no centro um cruzeiro armoriado que delimitava as dioceses de Braga e Tui".

Atravessando a ponte vindos da vila, deparámo-nos com os Jardins Municipais onde, todos os anos pelo verão, realiza-se o Festival dos Jardins, onde se podem ver vários jardins temáticos. Mesmo fora de época, os Jardins Municipais merecem uma visita, pela calma que proporcionam e pelas belezas naturais que despontam aqui e ali, de que são exemplos esta flor...

E os nenúfares junto à estufa...


Como podem ver, não são só o Arroz de Sarrabulho ou os Rojões à Minhota que vos esperam nestas paragens de Portugal.

terça-feira, novembro 07, 2006

Gil Eannes

Outra incursão à capital do minho e, desta feita, para visitar o porto de mar e o centro histórico da cidade.

Ancorado no porto de mar, estava o imponente Gil Eannes (um antigo navio hospital), agora convertido em museu.


Eis o que se diz sobre este navio:

"O Navio Hospital Gil Eannes, foi projectado e construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo em 1955. É nesse ano que tem início a sua missão de assistência médica aos pescadores de toda a frota bacalhoeira portuguesa e de outros países, nos mares da Terra Nova e Gronelândia. No entanto, este navio não desempenhou unicamente a função de hospital, também foi navio capitania, navio correio, navio rebocador e quebra-gelos e garantiu abastecimento de mantimentos, redes, material de pesca, combustível, água e isco aos barcos da pesca do bacalhau. A partir de 1963 sofre alterações na sua missão e passa a fazer viagens de comércio como navio frigorífico e de passageiros entre as campanhas de pesca, efectuando a sua última viagem à Terra Nova em 1973, ano que também fez uma viagem diplomática ao Brasil como embaixador de Portugal. Após aquela data, o Gil deixa de "ser útil" e vai sendo empurrado, de cais do porto de Lisboa, até ser vendido a um sucateiro para abate em 1997. Perante este inglorioso destino do emblemático navio-hospital, a comunidade vianense é mobilizada para o trazer à terra onde nascera, resgatando-o à sucata para ser exposto no porto de mar de Viana do Castelo como memória do passado marítimo da cidade. Hoje é propriedade da Fundação Gil Eannes que reúne várias entidades vianenses. Encontra-se aberto ao público desde Agosto de 1998. Características principais: Comprimento: 98,45 m/Largura máxima: 13,7 m."

sexta-feira, outubro 27, 2006

Os Condenados de Shawshank

A esta altura, já todos devem saber que sou um amante de cinema. Particularmente em casa, utilizando o meu DVD. Em breve colocarei aqui um post com a forma como vejo cinema em casa.

Mas, o que aqui me traz agora é o filme "Os Condenados de Shawshank" ou, se preferirem, "The Shawshank Redemption". Um preço abaixo de €5 no Jumbo da Maia ditou o inevitável: dois bons serões com um excelente filme.

O IMDB categoriza-o tão somente como o 2º melhor filme de sempre, logo atrás de outro excelente filme: "O Padrinho" ("The Godfather") de 1972.

À frente do elenco temos duas interpretações dignas de um Óscar (embora não o tivessem conseguido): Tim Robins, no papel de Andy Dufresne e Morgan Freeman, no papel de Ellis Boyd "Red" Redding. Este último, está particularmente bem. Outra interpretação memorável (embora curta) e comovente é a de James Whitmore no papel de Brooks.

O filme é adaptado do livro de Stephen King.

O enredo gira em torno de um homem inocente (?), "Andy", que é condenado a duas prisões perpétuas por duplo homicídio (a sua mulher e o amante). Na cadeia, trava amizade com outro presidiário, "Red". É basicamente sobre esta relação de amizade e sobre o ambiente corrupto da cadeia que o filme se desenvolve. O final é surpreendente.

Posso dizer sem sombra de dúvida que foi um dos melhores filmes que vi.

Portanto, assim que tiverem possibilidade, assistam a este brilhante filme e façam aqui os vossos comentários.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo VII

O mar de gente respondeu: "Santinho!"

Miquelina Zarolha, deitando mão à sua sacola de beata, tirou de lá um dicionário de Russo-Português. Após uma aturada pesquisa, proferiu:

- Suas bestas! Este homem não espirrou! Apenas disse: "Boa tarde a todos! Vim buscar o plutónio"!

Francisco Panças virou-se para Joselino Narigangas dizendo:

- A treta da velha até fala russo!

Miquelina Zarolha arranhou uma frase que o russo entendesse:

- Lasdróbia pravénia ilieschev! Zé Bigodes possedov porrevsky plutoniescu! Eu disse: Muito boa tarde para ti também, pá! A porra do plutónio está com o Zé Bigodes!

- Piovska! Niet espereiev porreciovenko!

- Ele disse: "Poça! Não esperava por isso"! E agora o que é que eu digo? - perguntou Miquelina Zarolha.

- Diz-lhe que vá ter com Zé Bigodes e lhe tire o plutónio! Ainda estou para ver como é que ele vai fazer isso! - exclamou Joselino Narigangas.

Zé Bigodes fez cara de caso.

- Ei! Mas que é isto? Daqui não sai plutónio nenhum! Enquanto vocês estavam para aí com lasdróbias e pravénias, eu reflecti aturadamente sobre o meu holocausto e decido que de mim não sai nada! Não sai enquanto eu não vir uma contrapartida monetária! Afinal de contas, ouvi dizer que uns gramitas de plutónio dão para abastecer de energia uma cidade durante cinquenta anos! Não é brincadeira nenhuma, com-a-breca!

Fosse ou não fosse brincadeira, o louro pôs-se por trás de Zé Bigodes e deu-lhe uma traulitada nas costas. Como que impelido por um canhão, um pedaço verde fluorescente de plutónio radioactivo, saltou da boca de Zé Bigodes, indo parar direitinho dentro de uma caixa de chumbo que o louro havia colocado no chão minutos antes sem que ninguém se apercebesse do facto.

- Agorievski, voutiovska imuniochenko kotrevio plutoniescu!

Miquelina Zarolha traduziu:

- Ele disse: "Agora é que vai ser bonito! Vou-te imunizar contra o plutónio, servindo-me de um spray milagroso que os meus camaradas lá da russia inventaram!

Após algumas borrifadelas, Zé Bigodes deixou de estar fluorescente.

Olívia Manca, no meio da confusão que se gerou a seguir ao milagre, reparou em algo de estranho no louro. Lançou-se sobre ele e arrancou a máscara e a cabeleira que ele trazia para ocultar a sua identidade! Apenas Olívia Manca havia reparado neste facto, por causa de um misterioso alfinete-de-ama que viu atrás do pescoço do sujeito.

Qual não foi o seu espanto, quando constatou que se tratava de um extraterrestre!

terça-feira, outubro 17, 2006

Greve de Professores

Pois é... se é professor e se pensa no seu futuro, com certeza fez greve hoje e provavelmente fará greve amanhã. E a culpa disto tudo é da Ministra da Educação, que disse aos professores para lerem a proposta de alteração dos estatutos da carreira docente e formarem a sua própria ideia. Os professores leram e aperceberam-se dos ataques que a proposta faz aos seus direitos mais básicos. Vai daí, partiram para a greve. E fizeram muito bem! "Constou-se-me" que a Ministra da Educação já foi casada duas vezes (e divorciada outras duas) com professores do ensino básico. Será esta uma forma de ela exorcizar as suas relações frustradas? "Lixando" a vida a todos os professores, atingindo necessariamente os seus ex-companheiros? Talvez seja uma teoria da conspiração um bocado rebuscada... mas, nunca se sabe!

As opiniões vinculadas através de posts com o label "Teoria da Conspiração" não devem ser levados a sério. Qualquer semelhança com situações, locais ou pessoas reais é mera coincidência. Não existem provas de nada que se escreva no âmbito deste post.

Os Administradores da Função Pública

Ontem foi apresentado o orçamento de estado. E os políticos do governo fartaram-se de auto-elogiar o seu trabalho: porque estão a diminuir o deficit, porque não precisaram de orçamento rectificativo. Esquecem-se é de uma coisa essencial: é por causa da sua boa competência ao nível da administração do dinheiro público? Não! É porque sacam cada vez mais dinheiro aos contribuintes, quer fornecendo aumentos abaixo da inflação (que se traduz na perda de poder de compra), quer diminuindo os benefícios fiscais (e o próximo será retirar as despesas com a educação), quer colocando taxas em coisas que dantes não tinham taxas (como os internamentos hospitalares). Não sei se lhes chame administradores ou comedores...

As opiniões vinculadas através de posts com o label "Teoria da Conspiração" não devem ser levados a sério. Qualquer semelhança com situações, locais ou pessoas reais é mera coincidência. Não existem provas de nada que se escreva no âmbito deste post.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Mudanças no Blog

Como poderão reparar, fiz algumas mudanças no meu blog, aproveitando algumas features interessantes da versão Beta. Agora, podem navegar mais facilmente através das minhas mensagens, já que se encontram devidamente etiquetadas (labels) por assunto. Clicando na seta ao lado do nome dos meses, na coluna da direita do blog, têm acesso imediato às mensagens que foram escritas num determinado mês ou ano.

Boa navegação! E, já agora, sejam bem-vindos, novos leitores!

Já agora... sei que muita gente me lê... mas poucos fazem comentários! Estarei a publicar coisas desinteressantes? Se sim, comentem a dar sugestões! :)

Viana do Castelo

No fim-de-semana passado, fui passear até Viana do Castelo. Já lá não ia há muito tempo! As condições meteorológicas poderiam classificar-se, do ponto de vista científico, como "farruscas". Pelo menos à ida. À vinda, fomos presenteados com um verão de S. Martinho antecipado. Desta vez, o local escolhido foi o Shopping Center da Estação. Está muito bem servido de lojas, não fosse este o único centro comercial num raio bastante largo de dezenas de quilómetros.
Chama-se Estação porque de facto situa-se junto à Estação de Caminhos de Ferro de Viana do Castelo. Num dos locais do shopping, podemos vê-la através de uma parede de vidro.


As estações de comboio e os comboios são coisas de que gosto particularmente, embora tenha começado a andar de comboio relativamente tarde (com 20 anos) e de já ter tido um acidente de comboio. Voltarei a este assunto mais tarde. Entretanto, fica aqui a sugestão para um passeio de fim-de-semana: a Viana do Castelo em geral e ao Shopping Center da Estação em particular.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Está preocupadinho...

Aqui há uns dias, vi na televisão o Dr. Jorge Sampaio a confessar-se admirado pela lentidão da justiça relativamente ao desfecho do caso "Envelope 9", em que o referido ex-presidente da república portuguesa estaria, alegadamente, implicado. Disse Sampaio: "Há um ano atrás, solicitei que tratassem deste assunto com a maior brevidade possível"!

Quer-me parecer que o Dr. Jorge Sampaio não sabe em que país se encontra! A justiça em Portugal é L E N T A! E, felizmente, como numa boa democracia, é L E N T A para toda a gente, incluindo para ex-presidentes da república.

Dr. Jorge sampaio... aceite um singelo conselho meu: tire o tiquet, ponha-se na fila e espere pacientemente pela sua vez. Vai ter muito que esperar.

terça-feira, outubro 03, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo VI

"Este capítulo é dedicado à S. P., que esperou pacientemente pelo seu lançamento".

- Zé Bigodes! Tu impõe-te! - ordenou Olívia Manca.

Zé Bigodes saíu do canto escuro e colocou-se no meio do mar de gente, que abriu uma clareira desafogada para evitar qualquer tipo de contágio. Olhando em volta, Zé Bigodes sentiu-se Moisés.

- Povo de Vila Marmota! Chegou a altura de eu fazer um discurso sobre o meu estado actual e sobre as evoluções dos factos nas últimas horas. Estou radioactivo... assumo-o! Sou um radioactivo assumido, que estas coisas são mesmo assim e não há volta a dar-lhe. Recuso a paternidade de Joselino Narigangas. O digníssimo Presidente da Junta de Freguesia de Vila Marmota nunca exerceu funções de pai para comigo até aos meis vinte e sete anos... não é agora que ele vai começar a fazê-lo! Para todos os efeitos, o meu pai continuará a ser o meu pai adoptivo, o meu amado Florindo Lambreta. E tu, Olívia Manca... criatura na qual deposito todo o meu amor, todo o meu ser, toda a minha alma... vai! Parte! Prefiro ver-te partir sem mim, a ver-te contaminada por radiações! Se fôssemos em frente com a nossa relação, iríamos parecer um casal de pirilampos, e fazer amor no escuro, revelar-se-ia uma tarefa impossível! Sou um desgraçado!

Dona Miquelina Zarolha, consultando um antigo caderninho de apontamentos, virou-se para Francisco Panças e disse:

- De qualquer forma, seria impossível que eles casassem, não é verdade?

- Não sei a que vos referis, velha gaiteira! - ripostou amargamente, Francisco Panças.

- Obrigas-me a contar tudo o que sei! Está bem! É que Olívia Manca não é filha de Francisco Panças! A dona Emília Genoveva Cerqueira de Castro Gumercinda de Miranda, mãe de Olívia Manca, teve um caso com Joselino Narigangas pouco antes de casar com Francisco Panças. Este último assumiu a paternidade do bébé, porque ama de facto a tua mãe, Olívia!

- Eu devia ter calculado! Nem tu nem a mãe mancam! A quem é que eu tinha saído? Mas espera lá! O senhor insígne Presidente da Junta de Freguesia de Vila Marmota, também não manca!

- Não! Eu manco! Disfarço é muito bem!

- Claro! Tudo se encaixa agora! Por isso é que a nossa família nunca viu com bons olhos a nossa união incestuosa! E pensando bem, eu também começo a não ver com bons olhos a nossa união incestuosa! - disse Zé Bigodes.

- Eu sabia que devia ter comprado uma máquina de filmar! - disse Godofredo Latinhas - Estamos aqui a construir a história de Vila Marmota! Gerações vindouras falarão deste dia!
No meio da confusão, chega uma personagem alta e loura ao recinto:

- Lasdróbia pravénia! Rachmaninov plutoniescu!

sexta-feira, setembro 29, 2006

Jose Merce

Quem me conhece, sabe que escolhi o pseudónimo "El Gitano" por dois motivos simples:

  • Adoro música cigana, que vai buscar muita da sua sonoridade ao Flamenco (outra paixão minha);
  • Encanta-me a visão romântica sobre o estilo de vida cigano: um povo nómada, sem fronteiras, entregue de corpo e alma à música e à alegria, mantendo um espírito puro.

No flamenco, um dos nomes incontornáveis é o de Jose Merce. Para que entrem um pouco neste espírito gitano, deixo-vos a música "Te Pintaré".

Te pintaré de azul, te pintaré de rosa,
te llevaré a París, eres la más hermosa.
Te pintaré de gris, te pintaré de cielo,
te llevaré a mi mar, yo soy tu marinero.

Toda la noche entre sombras buscando tu imagen, tu cara feliz.
Toda la noche llorando, manchando el viento por ti.
Toda la noche llorando, maldito el momento y en que te perdí.

Y en el silencio de los silencios, la espada que corta el toro,
[ caballo de esparto y oro.
En la vergüenza de la vergüenza, los gritos de un negro toro,
[ lamentos de grito y lloro.

Llévame una tarde al sur, a mi Málaga vieja.
Vamos a bailar tú y yo que hoy es un día de fiesta.
Yo seré siempre del sur, yo seré siempre del sur,
yo seré siempre del sur...y aunque no esté en mi tierra.

O Principezinho

Numa das últimas incursões à Bertrand, não resisti e trouxe "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry.


Logo nas primeiras páginas, houve algo que me fez pensar.

O autor diz que as pessoas grandes têm a mania dos números. Se dissermos às pessoas grandes: "Hoje vi uma casa com umas varandas muito bonitas, ladeadas por flores trepadeiras e portas de madeira escura", elas ficam quase na mesma. Mas se lhes dissermos: "Hoje vi uma casa de €250.000"! A coisa muda logo de figura... diriam qualquer coisa como: "Ah! Devia ser uma grande casa"! E isto aplica-se aos mais variados assuntos. As perguntas que as pessoas grandes mais gostam são: "Quantos anos tens"? "Quanto ganhas"? "Quantos filhos tens"? "Há quanto tempo estão casados"? Tudo coisas que envolvam números.

Mesmo para mim que não morro de amores por matemática... dá que pensar.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Fiu-Fiu

Um dos hábitos que tenho desde tenra idade é desenhar. Quando arrumei o meu sótão, descobri montanhas de cadernos onde fazia os meus rabiscos. Folhas todas preenchidas. Um treinamento de anos, que começou a dar os seus frutos na escola primária. A Dona Edite adorava os meus desenhos! E eu, todo contente, adorava ilustrar as minhas redacções.

Já na Preparatória, fui o menino bonito da professora de Educação Visual. Na primeira aula disse-nos para fazermos um desenho que nos identificasse, na capa onde guardaríamos os desenhos ao longo do ano. Fiz um leão. Que convencido! Mas ela adorou o meu leão e todos os outros desenhos que fiz. Eu adorei os cincos que me dava!

Na secundária, o bichinho do desenho cresceu ainda mais. Escolhi a área E - Artes Visuais. No 12º ano desenvolvi a técnica de desenhar, verdadeiramente. Ao concorrer ao ensino universitário, lá puz "Design e Artes Gráficas" na Escola de Belas Artes do Porto, mas em último lugar... isto porque me convenceram que com esse curso, passaria a vida a desenhar nos passeios da Rua de Santa Catarina. Talvez não tivesse sido assim.

Quando entrei para Engenharia Mecânica, encontrei um colega na rua que tinha estudado comigo no 12º ano e que me perguntou:

- Então? Entraste em Belas Artes?
- Não. Coloquei Engenharia em primeiro lugar. Mas teria entrado! Tirei 85% na prova de desenho.
- Olha... eu não consegui entrar em Belas Artes... Deus dá pérolas a porcos!

Fiquei a olhar para ele... e nestes anos todos, de vez em quando, fico a pensar se não estarei de facto a desprezar algumas pérolas.

Os meus cadernos estão muitas vezes desenhados... ainda hoje, o desenho é uma escapatória para mim.

Prometo publicar aqui algumas das minhas pérolas em bruto.

Para já, apresento-vos o Fiu-Fiu. Desenhado a lápis, com acabamentos no Photoshop.


quarta-feira, setembro 13, 2006

A Guerra do Fogo

Há filmes que nos marcam... e A Guerra do Fogo de Jean-Jacques Annaud foi sem dúvida um deles!

Aliás, e antes de continuar este post, cheguei à conclusão de que gosto particularmente de dois realizadores, quando me apercebi que eram eles quem tinham realizado alguns dos meus filmes preferidos. Estes realizadores são:

  • Jean-Jacques Annaud - realizou "A Guerra do Fogo" e "O Nome da Rosa";
  • Ridley Scott - realizou "Alien o 8º Passageiro", "Blade Runner", "1492 - A Conquista do Paraíso" e "Gladiador".

Os filmes que mencionei encaixam-se na minha categoria "MUST HAVE" e portanto, foi com espanto que vi "A Guerra do Fogo" à venda na FNAC. E não resisti.

Há filmes que causam uma mítica quando os vemos pela primeira vez, mas quando os revisitamos, essa mítica esfuma-se. Não foi o caso de "A Guerra do Fogo".

Trata-se de um filme sobre uma tribo de seres humanos pré-históricos que ainda não sabem produzir fogo, mas que estão totalmente dependentes deste para se aquecerem, cozinharem os alimentos e afugentar os animais selvagens. Só o conseguem obter quando este surge no estado natural e protegem-no religiosamente dentro de uma campânula.

A dada altura a chama, que é tão cuidadosamente guardada, apaga-se. A tribo elege três dos seus membros para partirem em busca do precioso fogo. O filme conta a aventura desses três homens: as peripécias e o encontro com outras tribos de homens, umas mais sofisticadas e outras menos. Os três homens acabam por descobrir outras tradições... e mesmo a arte de "fazer" fogo.

É evidente que temos de desculpar alguns efeitos especiais, e um ou outro pormenor de caracterização.

Por outro lado, o filme consegue transmitir toda a estória sem recurso a muitas verbalizações (como seria próprio daquele tempo), de tal forma, que não existem legendas.

É, no fundo, um filme sobre a descoberta do homem, pelo próprio homem: os primeiros risos, os primeiros olhares sobre outros usos e costumes, outras formas de amar e ser amado. Tudo contado magistralmente e com uma envolvente paisagística que nos transporta efectivamente a uma época que sabemos ter existido e da qual guardamos memórias ancestrais.

A não perder.



segunda-feira, setembro 04, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo V

"Este capítulo é dedicado ao FJ, que esperou pacientemente pelo seu lançamento".

Ouviram-se "Ohs" de todos os lados.

- Então o meu pai é Joselino Narigangas, distinto Presidente da Junta de Freguesia de Vila Marmota? - choramingou Zé Bigodes.

- Então este candidato a candeeiro de mesinha-de-cabeceira é o meu filho bastardo? Eu que tentei ocultar este pecado durante tanto tempo, agora aparece-me a rebrilhar no escuro! - constatou friamente Joselino Narigangas.

- Vê, pai meu, como o Zé Bigodes não é filho de nenhuma galinha de aviário? - ripostou Olívia Manca.

- Como podes garantir isso, filha minha? Apenas sabemos que ele é filho do Presidente da Junta! Falta agora saber as preferências sexuais do nosso insigne doutor Joselino Narigangas!

Joselino Narigangas não acreditava nos seus ouvidos, que ditavam ao cérebro tudo quanto assimilavam, vai para cinquenta anos. Apontando para Francisco Panças, fez saber:

- Como se atreve a dizer que eu sou um galinhófilo? Para que saibam, sou heterosexual e não admito que ponham em causa a minha masculinidade!

A velhota que havia dado génese a todos estes atritos, era a dona Miquelina Zarolha, mulher-a-dias aposentada, com a provecta idade de cento e trinta e dois anos. Esticando o pescoço para parecer mais alta, explicou:

- Estes olhos já viram muita coisa! Joselino Narigangas, na sua juventude, era um autêntico Don Juan. Não havia catraia que resistisse ao seu nariz afilado. Quiz o cupido que ele se enamorasse por Sezaltina Buços, criada-de-servir na quinta da família Narigangas. Do seu amor secreto, nasceu este rebento luminoso, o espadaúdo Zé Bigodes, que é as ventas chapadas da sua mãe. A família Narigangas não podia admitir esta relação entre elementos de classes sociais tão distintas! Pagou uma soma abismal para que Sezaltina Buços abalasse para a América e se esquecesse que tinha tido um caso com Joselino Narigangas. Entregaram o bébé do pecado para adopção e este teve a sorte de calhar com um pai extremoso, o senhor Florindo Lambreta. Os pais de Joselino fizeram com que ele tivesse poucos contactos com o seu filho bastardo! Ele deve estar tão surpreso quanto vocês todos!

Joselino Narigangas chorou copiosamente.

- Porquê a mim? Porque é que não posso ter um filho normalzinho, com índices normais de radioactividade? Agora o que é que eu faço com este mutante, produto duma sociedade industrializada de leste?

Zé Bigodes lançou mais uma acha para a fogueira:

- E eu? Não sou perdido nem achado neste assunto?

quarta-feira, agosto 30, 2006

Renault Clio I 1.4 RT

É com um bocado de dor que escrevo este post.
Hoje, o meu carro foi para abater... ao fim de 10 anos na minha posse... ao fim de 106.000 km percorridos.


Deu-me mais alegrias que tristezas. E juntos passámos bons e maus momentos.
Primeiro, falo dos maus momentos, para que possa terminar em beleza:

  • Lembro-me duma vez em que o Clio começou a deitar um espesso fumo branco pelo capot: tinha furado um tubo de água no radiador. Felizmente estava a 500 metros de uma oficina.
  • Uma noite, ia a sair com o carro e rebentou o cabo do pedal da embraiagem. Felizmente estava à porta de casa.
  • Tive um encontro imediato com um Autocarro da STCP numa manhã de domingo, após uma noite de chuva. Reparação do autocarro: 18 contos (ainda era em contos). Reparação do Clio: 250 contos.
  • Por duas vezes deixei as luzes do carro acesas, que me drenaram a bateria.
  • Tempos houve em que o carro soluçava nas subidas do IC1 (estrada que percorro muitas vezes): tinha partido a base do carburador.
  • Quando a panela de escape furou, tive a sensação de estar a pilotar um carro de rally.
  • Uma vez, o termóstato do radiador pifou e o carro foi aquecendo constantemente à medida que ia percorrendo os quilómetros no IC1. Parei na Póvoa de Varzim com o ponteiro da temperatura quase na zona vermelha (e em riscos de queimar a junta da colassa). Fizeram-me uma ligação directa à ventoínha, colocaram a chauffage no máximo e lá segui viagem.
  • Ao descer a Serra da Estrela, o carro embalava mesmo em segunda. A utilização dos travões valeu-me uma esquentadela jeitosa e um cheirinho característico a ferodo. Mas os travões, depois de arrefecidos, ficaram como novos e cumpriram a sua missão durante mais uns milhares de quilómetros.

Pensando bem, o carro quase nunca me deixou ficar verdadeiramente mal. Fartei-me de passar por BMW e Mercedes encostados na berma das auto-estradas. Isso nunca me aconteceu. Foi um bom carro. E deu pena entregar um carro para abate em tão bom estado de conservação. Mas, com 15 anos, ninguém me dava os €1500 que lucrei com este procedimento.

Do lado positivo, tenho as viagens que fiz, as conversas que tive com ele... algumas confidências, alguns desabafos... as pessoas que transportei e outras que queria, mas nunca consegui transportar. Foi nele que aprendi verdadeiramente a conduzir e é a ele que dedico este texto.

Os meus amigos associam o meu carro a um peluche que trouxe pendurado durante muitos anos no espelho retrovisor interior: o Patrício.

O Clio, o Patrício e eu vivemos uma aventura que durou 10 anos e que hoje finda. Marcava o contador 158.949 km. E já tenho saudades.

Até sempre.

terça-feira, agosto 29, 2006

Praia da Aguda

Nestas mini-férias fiz uma coisa que já não fazia há algum tempo: ir à praia. Escolhi a praia da Aguda, ali para os lados de Mira-Mar e Espinho.
Não me aventurei na areia mas percorri durante cerca de uma hora, parte do extenso passadiço em madeira, que lá existe.


A minha pele - que serve perfeitamente para fazer publicidade à farinha amparo - lamentou-se daquela exposição prolongada aos raios solares e fiquei vermelho como uma bandeira do PCP em plena festa do Avante.
Se puderem, não deixem de visitar esta área litoral, onde a paisagem dominada pelas dunas e pelo mar, conduz-nos a momentos de paz e reflexão interior.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Gerês II

Desta vez, eu e a A. M. decidimos visitar (por razões de força maior e porque até é bonito) a pacata freguesia de Venda Nova. Situa-se nos limites do Gerês, na fronteira entre os distritos de Braga e Vila Real e também nos limites do Concelho de Montalegre.

A barragem da Venda Nova propicia a existência de uma albufeira que gera um enorme lago improvável àquela altitude (793 metros).


Na pacatez da paisagem, alguém fazia o gosto à linha de pesca, no meio da vegetação. Mais à frente, uma pequena península com espaço apenas para conter uma árvore, alguns bancos e mesas de piquenique.

É um passeio interessante de ser feito. Em Braga, tomem a direcção de Gualtar, pela N103. Vai-se depois passando sucessivamente por Serzedelo, Salamonde, Ruivães e finalmente, Venda Nova. Demora cerca de uma hora a percorrer os 60 quilómetros que ligam Braga à Venda Nova.

Durante a subida, se tiver coragem de olhar para o lado esquerdo da estrada, encontrará paisagens de cortar a respiração, como esta que se segue.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Gerês

Ora bem... como devem ter imaginado, ausentei-me deste blog e de tudo o que tem a ver com a internet, por motivo de Férias.

A pedido de muitas famílias (mais do que imaginava ser possível), vou continuar a saga de compartilhar com vosotros alguns momentos da minha vulgar existência.

Desta feita, levaram-me os caminhos da vida a encontrar-me no Gerês com o meu colega de trabalho F. S.

Visitar o Gerês é sempre uma experiência única...

Entrámos (eu e a minha namorada A. M.) no Parque vindos de Vila Verde e, numa encruzilhada, aventurámo-nos por um caminho de terra batida que demorou uma boa meia-hora a atravessar. Mas, pelo caminho, esperava-nos esta espectacular paisagem.

Já na Vila do Gerês, subímos a uma formação rochosa chamada de "Penedo da Freira". Custa-me a crer que não tenha sido trabalhada por mãos humanas. Tem o tamanho certo para que nos possamos sentar nela e observar o esplendor da paisagem.

Subímos depois a um dos pontos mais altos do Gerês: Pedra Bela. A paisagem lá de cima é a perder de vista. Tão a perder de vista que nem me arrisco a colocar aqui as fotografias que tirei. Não fariam juz ao local, nem de perto, nem de longe. Pude no entanto efectuar uma macro sobre uma mariposa que se passeava alegremente por aquele local.

Visitar o Gerês é uma obrigação para qualquer português. Rima e é verdade!

terça-feira, julho 25, 2006

O Nome da Rosa

"...and yet, I never knew her name..."

Assim acaba a adaptação para o grande ecrã da obra homónima de Humberto Eco, que assisti ontem no conforto do meu lar, pela enésima vez.

O primeiro contacto que tive com este filme, produzido por Jean-Jacques Annaud, foi na escola secundária, onde a professora de Filosofia achou por bem que o víssemos, repartido por duas sessões.

Curiosamente, numa das cenas do filme, o ecrã ficou totalmente negro, coisa que não acontece no filme que voltei a ver ontem. É evidente que me refiro ao encontro carnal entre Adso (o pupilo de William of Baskerville) e a rapariga pobre. Até hoje fico sem saber se foi obra da professora que, ao transferir o filme para VHS, resolveu omitir esta cena por razões púdicas, ou se a televisão o transmitiu assim, pelas mesmas razões.

Polémicas à parte, devo confessar que é um dos meus filmes predilectos. Principalmente porque capta a essência (na minha modesta opinião) da época que é relatada. Isto deve-se com toda a certeza à brilhante escrita de Humberto Eco e aos especialistas que estiveram envolvidos durante as filmagens: nomeadamente, Jacques Le Goff.

Os personagens são credíveis, com caras sui generis. O próprio Jean-Jacques Annau confessa, nos comentários que faz ao filme, que escolheu alguns dos actores pelas suas caras, marcadas pelo tempo. Exigiu que ninguém usasse dentaduras postiças ou pusesse maquilhagem. Exigiu também que todos fizessem um corte de cabelo à Santo António. Às vezes custa a crer, mas todas as caras são reais, sem auxílio de próteses ou truques cinematográficos (à excepção do "Venerable Jorge" que usa lentes de contacto para simular a sua cegueira).

Jean-Jacques Annaud teve consciência que seria impossível passar para cinema um livro tão denso e exigente do ponto de vista intelectual. Preferiu, portanto, denominar a sua adaptação de palimpsesto: o texto original é apagado das folhas, para que estas sejam aproveitadas para outro texto; os vestígios do texto original podem, no entanto, ser vislumbrados aqui e ali, no meio do novo texto. É, porém, uma excelente adaptação que não me canso de ver, onde Sean Connery se "redime" dos seus papéis de 007 e Christian Slater torna-se num excelente debutante.

Ainda não li completamente o livro que, como referi, é denso e custa a digerir. A riqueza das descrições é espelho do doutoramento em estética medieval de Humberto Eco. Existem também bastantes expressões latinas que não são traduzidas. Mas um dia chego lá. Porque, se o filme é muito bom, o livro é ainda melhor.

segunda-feira, julho 17, 2006

Si Tu No Estás

Hay un invierno
Aqui en mi alma
Cai la nieve
Si tu no estás

Todo es silencio
Todo es pasión
Mi mundo es negro
Si tu no estás

Busco a tus besos
Busco a tu abrigo
Me desespero
Si tu no estás

Grito tu nombre
Rompo el silencio
Todo es inutil
Si tu no estás

P. S. : Não perguntem...

quinta-feira, julho 13, 2006

Calor Saramagado

Não se pode deixar de reparar no calor que faz lá fora, porque de aragens do deserto e do interior da península ibérica se tratam, Lá fora estão 38 graus, disse o N. B. olhando para o indicador digital da sua carrinha audi, Estás a brincar comigo, retoqui eu, não acreditando na diferença de temperatura motivada pela circulação do ar condicionado. É neste marasmo imposto pelo calor que as nossas vidas têm de seguir, nesta espiral cada vez mais apertada que nos conduz ao fim último da nossa existência, mas que mesmo assim nos faz ficar loucos de tanto suar e sorver água, como se estivéssemos perdidos no deserto sem redenção e o cantil estivesse quase a escoar as suas últimas gotas. Resta esperar que o tempo mude e isso deverá estar para breve, a fazer fé naquilo que se diz por aí, por esses doutores da climatologia que percebem de frentes quentes, frentes frias, anticiclones, correntes ascendentes e continentalidades, Eu não percebo nada disso, mas faço fé em quem me diz que o tempo mudará porque no meu íntimo sei que não aguentarei muito mais.

P. S. - O que o calor faz à mente de um blogger...

quarta-feira, julho 12, 2006

Ensaio Sobre a Cegueira

Confesso. Nunca li um livro de José Saramago.
Ontem perguntei à M. S.:
"Olha lá... se eu quisesse ler um livro, o que é que me aconselharias"?
Pergunta mais abrangente não pode haver. No entanto, fiquei surpreendido com a sua rápida resposta:
"Ensaio Sobre a Cegueira, do José Saramago".
Dirão alguns:
"Respondeu assim porque provavelmente deve andar a ler isso..."
Mas não. Neste momento a M. S. lê Milan Kundera e Confúcio. Portanto, deve ser AQUELE livro. Dos tais que marcam as pessoas.
Próxima paragem: livraria Bertrand, para fazer uso do meu cartão de fidelização.
Comecei a ler o Ensaio Sobre a Cegueira às 24:00 e só parei à 01:00, com três capítulos volvidos.
A pontuação é deveras diferente, o que resulta numa leitura fluida. Muitas vezes temos de adivinhar onde acabam as frases e onde começam as outras. O que é que uma personagem deixa de dizer para começar a falar a outra. Mas tudo isto resulta magistralmente, não fosse o senhor um galardoado pelo Prémio Nobel da Literatura. Estou a gostar bastante e conto fazer uma breve crítica literária, aqui, neste blog assim que ponha termo ao meu primeiro livro (mas certamente não o último) de José Saramago.

Esta foto foi tirada por mim aquando de uma sessão de autógrafos na última Feira do Livro do Porto. Agora arrependo-me de não lhe ter pedido um autógrafo no "Ensaio sobre a Cegueira"... mas... a fila era tão grande!

segunda-feira, julho 10, 2006

Estes Romanos São Doidos!

Como bom português, fiquei imensamente feliz pela vitória da Itália no Campeonato do Mundo de Futebol. Por um lado, matou-nos a sede de vingança. Por outro, isso significa que o Campeonato do Mundo de Futebol acabou, o que é, por si só, motivo de regozijo.

Fartei-me de rir com o nome de alguns jogadores de futebol do desafio de ontem e entreti-me a aportuguesar os seus nomes durante o desenrolar do jogo:

Gianluigi Buffon = João Luís Bufão
Fabio Grosso = Fábio Grosso (é mesmo grosso)
Mauro Camoranesi = Mauro Camarão com Maionese
Simone Perrotta = Simão Pé Roto
Marco Materazzi = Marco Mata Ratos

P. S. - Uma palavra para o Zidane... que deve ter-se arrependido do que fez logo a seguir a ter dado aquela valente cabeçada no adversário. Por muito que o outro lhe tivesse dito, deveria ter sido mais profissional e evitar sair pela porta pequena de uma carreira brilhante no futebol.

quinta-feira, julho 06, 2006

Colgate Time Control

Foi esta a surpreendente publicidade que vi na televisão sobre a nova pasta de dentes chamada "Colgate Time Control".

A dada altura, uma mulher queixa-se da retracção das suas gengivas... e que lhe disseram para ela usar "Colgate Time Control". Depois ouvimo-la dizer: "Porque não se pode controlar o tempo, mas podemos controlar os seus efeitos".

Terei ouvido bem? Mas a pasta chama-se "Colgate TIME CONTROL"! A isto é que se chama publicidade enganosa! Por que não chamar à pasta dentífrica "Colgate TIME FX CONTROL"? Não se enganava ninguém e ficavam todos felizes! E a publicidade seria mais consistente!

sexta-feira, junho 30, 2006

Desinvestimento Nacional

Um grupo qualquer de doutos economistas ou lá o que são, chegou à conclusão que o Governo deveria cortar com os benefícios fiscais da Educação e das Energias Renováveis. E acredito piamente que o façam.

Uma poupança de certamente bastantes Euro no presente, mas um desinvestimento nacional enorme no futuro.

Num país em que os níveis de literacia são dos piores da Europa, custa a crer que se possam fazer este tipo de desinvestimentos. Quase que ouço o Zé Pagode em Freixo de Espada-à-Cinta:

- Bais pá escola o caraças! Ficas com a carta quelasse i já é bão! Já biste o dinheiro que bais fazer gastar aqui ao beilho? Ainda para mais não recebo carcanhol nenhum do estado para andares a roçar o cu (que é mesmo assim) nos vancos da escola!

Já o Protocolo de Quioto também vai para o brejo. Quem vai querer investir em energias renováveis, se não existem incentivos para isso?

Os pontos de vista puramente economicistas são bastante redutores e podem pôr em risco os destinos de uma nação. Pensem melhor, caros amigos! Pensem melhor!

terça-feira, junho 27, 2006

Sinal da Cruz... a 100 à hora (e outros ritos Eucarísticos)

Sou uma pessoa observadora... e não se se considere isso um defeito ou uma virtude. Penso até que daria um bom monge contemplativo... pelo menos quando não tivesse mais nada para fazer.

Este fim-de-semana fui assistir (como é meu hábito) à Eucaristia Dominical e, como cheguei um pouco mais cedo do que o costume, entreti-me a reparar no que as pessoas fazem quando chegam à igreja. Benzem-se e/ou fazem o sinal da cruz a uma velocidade impressionante! Por vezes chegam a reduzir a amplitude de movimentos para optimizar a duração do ritual, pelo que as cruzes mais parecem círculos com 5 cm de diâmetro. E pressa para quê? Bem sei que vivemos numa sociedade fast! Mas um templo deve ser um local alheio às pressas do mundo exterior!

Uma vez ouvi dizer que a Eucaristia é a cerimónia com mais rituais de todas as religiões que existem: alturas para estar de pé, sentado ou de joelhos; alturas para falar e outras para ouvir; bençãos, preces, cumprimentos... enfim... um manancial de rituais.

Porém, com toda esta proliferação de rituais numa única cerimónia, existe lugar para os erros sistemáticos que foram herdados (por imitação) de outras pessoas que também não sabiam o que estavam a fazer. Eis alguns exemplos:

  • Na altura em que o Celebrante diz "Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo...", antes da leitura do evangelho, não se deve fazer o sinal da cruz, porque não é do sinal da cruz que se trata! Deve antes fazer-se três cruzes: uma na testa (com o significado de abrir o entendimento para a Palavra de Deus), outra na boca (com o significado de transmitir o que se ouviu de acordo com os preceitos divinos) e finalmente outra no peito (com o significado de abrir o coração para o Evangelho). A cruz final não se faz!


  • Na altura em que o Celebrante diz "Santificai estes dons derramando sobre eles o Vosso Espírito", na altura da consagração do pão e do vinho, as pessoas só devem ajoelhar-se quando o padre impõe as mãos sobre o pão e o vinho. Nunca antes e nunca depois!


  • Na altura do Pai Nosso, existe uma confusão com a palavra céu. Nomeadamente, se é singular ou plural. Bem... ela é utilizada das duas formas. A versão correcta é: "Pai Nosso que estais nos céus [...] seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu".


  • Muitas pessoas confundem os avisos finais com o toque de saída. Convém saber que só assistiram verdadeiramente à missa se ouviram o padre proferir as palavras "Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe". Se o padre perder 2 minutos em avisos numa celebração que dura em média 45 minutos, isto corresponde a uma poupança de tempo de 4%. Será que compensa? Penso que não.

A Eucaristia deve ser bem vivida!

Desculpem... é a minha veia de ex-catequista que falou mais alto, hoje.

quinta-feira, junho 22, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo IV

Godofredo Latinhas era o ferreiro de Vila Marmota. Foi com algum espanto que viu entrar um mar de gente para a sua pequena oficina.

- Que quereis de mim, mar de gente? Não devo nada a ninguém! Porque me perseguis? Que mal fiz eu?

Francisco Panças, que encabeçava a comitiva das gentes de Vila Marmota, explicou:

- Caro Godofredo! Nada temas! Vimos em paz! Ouve o que a filha minha, Olívia Manca, tem para te dizer!

Olívia Manca destacou-se da massa humana periclitante e tomou a palavra, pigarreando secamente:

- Senhor Godofredo Latinhas... o Zé Bigodes sofreu um holocausto nuclear! Está radioactivo! Por isso é que consegue vê-lo brilhar, ali... naquele canto escuro da sua oficina!

Zé Bigodes rebrilhava de facto no escuro. Tentou inventar uma piada onde entrasse a sua desgraçada condição actual e o relógio Indigo Night Light da TIMEX, mas não lhe saíu.

- Abrenúncio, Credo em Cruz! Com-a-breca, Zé Bigodes! Pareces uma assombração! - observou Godofredo Latinhas enquanto moldava um pedaço de ferro na bigorna.

- Mas não é! - corrigiu Olívia Manca - Precisamos que o senhor lhe faça um fato completo em chumbo! Vi um filme do super-homem e sei que os elementos radioactivos não conseguem ultrapassar uma barreira de chumbo!

- Isso é um desafio para mim, menina Olívia Manca! Mas aceitarei de bom grado!

Godofredo Latinhas aprontou-se logo a tirar as medidas ao pobre do - agora fosforescente - Zé Bigodes, com as devidas precauções para não sofrer contágio por radiação.

Quando todos menos esperavam, entra no recinto da acção, Joselino Narigangas, insígne presidente da Junta de Vila Marmota. Figura elegante, porte fino, bigode espetado, monóculo no olho esquerdo, fato negro, laçarote ao pescoço e umas sapatilhas brancas da Nike.

- Parai, povo em geral! Parai com este ajuntamento clandestino! Soube de boatos seguros que escondeis no vosso âmago uma criatura radioactiva! Ora, parafraseando o código civil em vigor: "É ilícito esconder das entidades competentes qualquer ser inanimado ou não, portador de radioactividade. Esta situação deve ser comunicada o mais rapidamente possível ao poder local (neste caso, a mim) para que este possa actuar em conformidade, reciclando o ser em causa". Ora não é o que está a acontecer! Mostrai o tratante, para que eu o leve para uma incineradora!

A voz de uma velhinha ressoou por entre as bocas cerradas pelo medo:

- Teríeis coragem de incinerar o vosso próprio filho?

segunda-feira, junho 19, 2006

Receita para Fogo de Artifício de Santo António

Ingredientes:
1 Noite de Santo António
1 Câmara Digital Canon Powershot S50
1 Tripé
Fogo de Artifício Q.B.

Preparação:
Monte a Câmara Digital no Tripé num local onde possa ver o fogo de artifício da noite de Santo António. Espere que o fogo de artifício comece. Assim que os clarões forem visíveis, tire uma fotografia com um tempo de exposição de 6 segundos.
Leve a servir num blog da sua preferência.

sexta-feira, junho 16, 2006

O Dilema de S. Pedro

Para além do famigerado Mundial de Futebol, os jornalistas das televisões descobriram outro furo jornalístico: as trombas de água! Sim... os mesmos jornalistas que há tempos estavam preocupados com as secas, hoje estão preocupados com o excesso de água.
Sei de fonte segura que S. Pedro está a começar a entrar em depressão, uma vez que já não sabe o que fazer. Quando está sol, pedem-lhe chuva. Quando está chuva, pedem-lhe sol.

Os viticultores do Pinhão tiveram ontem bastantes prejuízos por causa das chuvas intensas, mas nenhum deles possui qualquer seguro. Vão agora exigir ao governo subsídios. Nos anos vitícolas que dão lucro, não investem nenhum dinheiro em fundos de risco... depois, é o que se vê.

Enquanto não se cultivar uma mentalidade pró-activa nas populações, nunca iremos para a frente. Em Portugal, governa aquele ditado popular que diz: "Casa roubada, trancas à porta".

Já nessas terreolas que por aí há, outra coisa permanece esquecida ao longo dos anos: a limpeza dos esgotos públicos em tempo de sol. Quando cai aquela chuvinha de verão, é um "Deus nos acuda"!

Bem... enquanto falam das inundações, pelo menos já não transmitem os incêndios em directo e não incentivam os incendiários a seguirem os passos de Nero.

A S. Pedro resta pedir... um pouco de paciência. Porque, para os homens, o clima tem de obedecer ao seu calendário: friozinho só na noite de natal para abrir confortavelmente as prendas ao pé da lareira; chuvinha... alguma, vá lá, durante a primavera para as couvinhas medrarem; solzito no verão, para o zé pagode poder ir para a praia com o seu garrafão de 5 litros de tintol e o cozido à portuguesa bem aconchegado nas marmitas.

terça-feira, junho 13, 2006

Con La Misma Piedra

Considero-me uma pessoa com bom gosto musical. E não tenho preconceitos quanto ao que ouço: desde Beethoven a José Cid.

Cresci a ouvir as "bobines" do meu pai com música Latina: Los Paraguayos, Antonio Machin, Los Panchos, Alberto Cortez, Julio Iglesias, etc. Por esta razão, ouço de vez em quando coisas que a maior parte das pessoas nem sonha que existe.

Ultimamente tenho convertido alguma da colecção de CD's do meu pai (e mesmo algumas "bobines") para MP3, para que ele possa mais comodamente ouvi-la no carro (sem arrastar consigo a prateleira de CD's), bem como no seu leitor portátil de MP3. Isto fez-me recordar algumas das músicas que ouvia na minha infância. Entre elas, está esta música cantada por Julio Iglesias: "Con La Misma Piedra", do Álbum Moments (1982), cujo poema transcrevo porque acho interessante e aplicável a muito boa gente a história que ele conta.

Te miré de pronto y te empecé a querer
sin imaginarme que podría perder
no medí mis pasos
y caí en tus brazos
tu cara de niña me hizo enloquecer.

Pero fui en tu vida una diversión
tan sólo un juguete de tu colección
me embrujaste al verte
y tus ojos verdes
le pusieron trampas a mi corazón.

Tropecé de nuevo y con la misma piedra
en cuestión de amores nunca he de ganar
porque es bien sabido que el que amor entrega
de cualquier manera tiene que llorar.

Tropecé de nuevo y con la misma piedra
en cuestión de amores nunca aprenderé
yo que había jurado no jugar con ella
tropecé de nuevo y con el mismo pie.

P. S. - Pronto... acho que vou ter de deixar de dizer que não gosto particularmente de poesia.

sexta-feira, junho 09, 2006

A Selecção de Todos Nós

O Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol, o Mundial de Futebol.

É esta a programação que temos nas televisões.

Nestas alturas, não existem notícias sobre o país nem sobre o mundo, porque os telejornais passam a maior parte do tempo preocupados com a Selecção Portuguesa. Quer até parecer que os jornalistas estão à espera destes eventos para se esquecerem de tudo o resto e concentrarem-se apenas num assunto... sempre deve dar menos trabalho.

Bem - podem dizer alguns -, mas de facto a Selecção Portuguesa é uma notícia importante! E eu respondo: meus amigos, o Mundial ainda não começou! Ontem, cerca de 5 minutos do Jornal da SIC foram perdidos com as preferências musicais do Ricardo... um assunto de extrema importância para o país. Principalmente quando estão em jogo bastantes interesses comerciais.

Bem - podem dizer alguns-, mas isto é importante para a imagem dos portugueses! E eu respondo: a imagem que passamos é que somos taradinhos pela bola e temos laivos de Nacionalismo colocando bandeiras penduradas do lado de fora das casas de dois em dois anos (para não falar de um senhor que colocou na cabeça meio garrafão de vinho, em jeito de chapéu, com as cores nacionais pintadas). Dá vontade de responder com uma frase que por aí li: "se querem ser nacionalistas, paguem os vossos impostos" e não sejam corruptos.

Geralmente os únicos jogos de futebol que vejo são da Selecção Nacional, mas como o país fica virado do avesso nestas ocasiões, quase dá vontade que a Seleccão venha embora mais cedo... pelo menos passa a existir vida fora da Selecção e fora dos gostos musicais do Ricardo.

quinta-feira, junho 08, 2006

Cântico Negro

Para quem não gosta particularmente de poesia, estes dois últimos posts têm sido um bocado excêntricos. Mas este é um poema que de facto diz-me alguma coisa. Corria o longínquo (?) ano de 1997 quando a M. S. deu-me a conhecer este Cântico Negro de José Régio. Com ela aprendi também a ler outros autores que para mim eram desconhecidos, como Florbela Espanca.

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio

quarta-feira, junho 07, 2006

Flor Vermelha

Não sou particularmente amante de poesia... mas...

Ninguém sabe onde vai nem donde vem
Mas o eco de seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Esta foi mais uma macro que surgiu no jardim da Quinta dos Três Pinheiros, na Mealhada. Pensei que seria uma boa forma de valorizar esta imagem.

terça-feira, junho 06, 2006

Rainha Santa Isabel

Lembrei-me d'aqueles tempos infernais (que palavra estranha, esta) do 7º ao 12º ano de escolaridade, ontem, quando passei junto à minha antiga escolinha: o Liceu Rainha Santa Isabel.


Mas... que tristeza senti... a escola já não fervilha de vida como outrora. Apenas um pacato segurança fazia ronda às instalações. Esta escola pertence ao rol das escolas dispensáveis do Ministério da Educação. Agora só as ervas daninhas parecem querer aprender algo: o crescimento desenfreado nos espaços do Liceu. Já estou a imaginar-me a ter uma conversa com o meu futuro descendente, num diálogo que seria mais ou menos assim:

- Vês, descendente... aqui foi a escola em que o teu pai estudou!

- Fogo, pai! És mesmo velho! Esta escola já fechou e quase não se consegue distinguir no meio deste matagal de ervas daninhas desenfreadas!

Bem, lá fui contando do que me lembrava à minha namorada A. M. ...

- Ali era o ginásio... as voltas que eu dei a esta escola, a correr, em educação física. Ali por cima da entrada era a biblioteca. Aqui do lado direito eram os serviços administrativos. Este outro edifício, onde agora está a DREN, era o antigo liceu feminino Rainha Santa Isabel. Mais tarde foi convertido em escola mista. Ainda cheguei a ter aulas lá no 7º ano!

Ai, as saudades. Ai, a tristeza.

666 - O Sinal da Besta

Numa efeméride tão significante para o destino do Universo em geral e da Humanidade em particular, não posso deixar de apontar alguns sinais do dia de hoje que comprovam inequivocamente a existência de uma presença maligna, luciférica, satânica, vá lá... nesta pacata terça-feira, dia seis do seis do zero seis:

Hoje de madrugada estiveram 26 graus: um calor nada normal para aquelas horas. Esta é uma prova que as labaredas provenientes da fornalha do inferno atingiram a nossa atmosfera.

Mal me levantei, fiz a barba. Anormalmente, fiquei com a pele do pescoço extremamente sensibilizada, ao rubro. Ardeu-me bastante a colocar o after-shave.

No caminho que liga a minha casa ao meu local de trabalho, vi-me confrontado com 6 comportamentos irracionais de 6 condutores que me colocaram em 6 situações de perigo.

Ao chegar ao meu local de trabalho, uma rabanada de vento despenteou-me todo... coisa que me irritou bastante.

Quem puder perceber, que perceba! Este é o sexto parágrafo deste post. Acho que vou parar por aqui.

quinta-feira, junho 01, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo III

- Zé Bigodes? O meu Zé Bigodes? És mesmo tu, Zé Bigodes

Zé Bigodes era mesmo ele: em carne, ossos, cabelos, cartilagens, fluídos e roupas ensopadas. Lançou um olhar cor de mar para o objecto do seu afecto, Olívia Manca e abriu a boca para proferir algumas palavras que feririam como punhais, todos os que se encontravam na lota.

- Não vos aproximeis de mim, inocentes criaturas! Receio estar radioactivo! A embarcação onde eu seguia, foi abalroada por um submarino Soviético de propulsão nuclear, enquanto estávamos a tentar apanhar um linguado fugidío.

Florindo Lambreta, pai adoptivo de Zé Bigodes e mecânico nas horas vagas, precipitou-se em direcção ao busto do seu pseudo-primogénito. Não receou a radioactividade. Apenas queria sentir aquele que era pseudo-sangue do seu sangue. Zé Bigodes, ao ver a precipitação do seu adorado pai adoptivo, fugiu para trás de ums caixotes de lapas e caranguejos, enquanto gritava:

- Não se aproxime de mim, estimado pai adoptivo! O meu desejo era abraçar-te, a ti e à minha Olívia Manca! Mas devo conter-me, pois sei que talvez tenha de arrastar esta sina de não poder tocar em ninguém, para o resto da minha vida!

- Esses Russos só fazem asneiras, meu Zé Bigodes! - soluçou Florindo Lambreta - Primeiro Chernobyl, depois a Estação Espacial Mir e agora isto!

Francisco Panças, apesar do ódio visceral que nutria por aquela criatura, sentiu-se no dever de ajudar mais uma vítima do holocausto do Plutónio.

- Rapaz, Zé Bigodes... não gosto de ti... não te vou mentir só por piedade! Considero que agora não é altura para querelas, mas sim para a união! O problema atómico não é só teu, que o sentes no corpo, mas de toda a população de Vila Marmota! Pensa bem, rapaz! Foste elevado ao estatuto de lixo nuclear radioactivo. Podes ser encarado como um dejecto Russo lançado ao mar em águas internacionais! Tendo o teu corpo dado à costa portuguesa, há que exigir aos Russos duas coisas! Primeiro: estudos de impacto ambiental! Segundo: indemnização por futuros prejuízos que advenham da contaminação de Vila Marmota pela radioactividade que carregas contigo.

Olívia Manca estourou num acesso de raiva:

- Parem todos! Porque é que ignorais o verdadeiro problema do meu Zé Bigodes? Temos que arranjar uma forma de ele poder circular por Vila Marmota sem prejuízo para os outros, nem para ele!

- Mas como vais conseguir isso, filha minha? - interrogou Francisco Panças.

- Sim! Como vais conseguir isso, filha de Francisco Panças? - contra-interrogou Florindo Lambreta, pai adoptivo de Zé Bigodes.

- Acalmai-vos, homens de pouca fé! Apenas temos de falar com o senhor Godofredo Latinhas!

quarta-feira, maio 31, 2006

Educação: Pais a avaliarem Professores

Excelente ideia!
E para quem viu a reportagem de ontem à noite na RTP sobre os comportamentos irracionais de certos e determinados alunos na sala de aula, deixo outra ideia: Professores a avaliarem os Encarregados de Educação dos seus alunos.
Porque, ao que parece, cada vez mais a família tenta alhear-se da formação como seres humanos dos jovens, delegando essa função na Escola. Está mal! Está muito mal! Caminhamos a passos largos para uma sociedade sem valores, sem moral, em que o professor é encarado como uma criatura de quinta categoria à qual não se deve sequer o mais elementar respeito.
As gerações verdadeiramente rasca estão a despontar no horizonte e o panorama não tende a melhorar se nada for feito.

segunda-feira, maio 29, 2006

Igreja de S. Pedro da Cova

Outra das coisas que gosto de fotografar, são Igrejas. Esta, situa-se em S. Pedro da Cova, relativamente perto do sítio onde moro. Não sei o que tem de especial. Talvez seja o campanário desproporcionado. Talvez o seu interior. Mas não me deixa indiferente. Há coisa de um mês, passei por lá perto e não resisti à tentação de tirar umas fotografias ao interior e ao exterior. Como não tinha trazido a minha máquina digital, recorri-me do telemóvel (Sony Ericsson K750i).

Um pormenor do vitral em forma de roseta.

Embora o exterior seja um pouco espartano, lá dentro existem muitos pormenores que podemos observar. A nave central, absolutamente simétrica, é ladeada por vitrais e janelas francas que deixam entrar a luz do dia, contribuindo para a leveza dos arcos ogivais. Estão colocados em algumas paredes azulejos de alto relevo com cenas bíblicas.

A fotografia seguinte mostra o vitral em forma de roseta, visto do interior da igreja.

Este é um dos vitrais que ladeiam a igreja, representando o Sagrado Coração de Jesus. Repare-se também na beleza dos azulejos que recobrem as paredes interiores.

Outra agradável surpresa é o baptistério, que habita numa sala semi-circular onde se salientam os vitrais representando a árvore da vida, com a maçã que condenou Adão e Eva a transmitirem à sua descendência o pecado original. O mal e o remédio (pia baptismal), tudo no mesmo local.

À saída, fico encantado com o pormenor das portas, que mostram uma composição com as chaves do paraíso. O fiel guardador - S. Pedro - parece ter-se esquecido delas aqui, neste local remoto do mundo.

sexta-feira, maio 26, 2006

Amor na Lota do Peixe - Capítulo II

Capítulo II

As vagas iam, as vagas vinham e Olívia Manca não via o seu Zé Bigodes. Berrou no meio da multidão que se acotovelava por causa do peixe fresco:

- Ó incongruência! Ó inoquidade! Por onde andam os teus bigodes, meu Zé Bigodes? Em que recifes de coral está teu corpo preso, meu amor? Em que plâncton deriva essa alma que me pertence? Sem ti não sou ninguém! Não mereço viver, porque cada dia será um suplício onde arrastarei as chagas do meu coração aberto pelo desgosto.

Um carapau voou, arremessado à distância por Francisco Panças, pai de Olívia Manca, indo acertar na boca desta última. Arrastando o corpo pesado das ceias romanescas e das cervejolas alemanescas bebidas na tasca pescatória do compadre Manel do Martelo, Francisco Panças vociferou de punho cabeludo erguido:

- Cala-te, filha minha! Não reveles esse teu amor amordaçado que sentes pelo desgraçado do Zé Bigodes! Ele não é homem para ti! Mereces o melhor! Não mereces uma criatura da qual não se conhece a árvore genealógica! Quem nos garante que ele não é filho de uma galinha de aviário?

Olívia Manca, cuspindo escamas, lançou um olhar de reprovação a seu pai, Francisco Panças, agora entretido a coçar a enorme barriga.

- Pai! Meu amado pai! Os seus conhecimentos de genética impressionam-me! Como podeis dizer, na maior das descontracções, que o meu Zé Bigodes é filho de uma galinha de aviário? Estes dois seres pertencem a chaves dicotómicas diferentes! O primeiro é um mamífero e o segundo, uma ave! Um não pode ser descendente do outro, nem vice-versa! É cromossomaticamente impossível e incongruente! Zé Bigodes é de certeza filho de seres humanos!

Alguns pescadores tomavam apontamentos da troca de ideias entre aqueles dois intelectuais. Vila Marmota orgulhava-se daquela família de sobredotados. Constava-se até que a sogra de Francisco Panças, dona Carlota Ranhosa, tinha memória fotográfica.

- Filha minha! Porque divagas tu em conjecturas científicas? Tentas desviar o raciocínio do teu pai daquilo que é realmente importante?

Antes que Olívia Manca pudesse dizer alguma coisa, Zé Bigodes apareceu na lota, encharcado, à frente de uma trilha de pegadas que recuavam até ao mar.

quinta-feira, maio 25, 2006

Amor na Lota do Peixe - Introdução e Capítulo I

Amor na Lota do Peixe

Introdução

Em tempos escrevi uma novela ao jeito de tragi-comédia sob o pseudónimo de Casimiro Lambreta. Foi uma das primeiras edições electrónicas do país e quiçá da galáxia. Como um blog também deve conter patetices (?), vou publicá-la neste espaço. Espero que apreciem. No final, terão uma biografia sucinta do meu pseudónimo.

Capítulo I

A manhã acordou pardacenta por sobre as casas da velha vila pescatória. A faina havia começado às tantas da madrugada e alguns dos barcos emproados regressavam ao cais. À sua espera, estavam os bois-de-arrasto, as rameiras, as peixeiras, e uma ou outra gaivota de olhos fitados no peixe. Tudo era pacato e calmo na areia orvalhada.
Olívia Manca - a beldade lá da zona - esperava com mais impaciência os barcos que começavam a aparecer no horizonte. Isto tinha um motivo especial. O seu Zé Bigodes também andava na faina! Como ele sabia anzolar os robalos, as trutas e as fanecas. Só de o ver lançar a linha, a nossa Olívia Manca, ficava maravilhada.

- Ó catraia! Ó filha? Que é que estás a fazer a olhar escarrapachada para os carneirinhos do mar? - perguntou a dona Emília Genoveva Cerqueira de Castro Gumercinda de Miranda, mãe da Olívia Manca.

- Nada, minha mãe... apenas contemplo o azul infinito da água e interrogo-me sobre o porquê de tudo isto! O que comanda o girar da terra? O que faz com que a lua regule as marés e os peixes se estruturem numa cadeia alimentar equilibrada? Se não é Deus que está por trás disto, quem será? Pode uma alma ficar alheia a estas questões que mexem com o âmago da nossa existência?

A dona Emília Genoveva Cerqueira de Castro Gumercinda de Miranda atirou com uma truta à cara da sua filha, que ficou uns bons três minutos a cuspir escamas.

- Isto é para aprenderes a não faltar com o respeito à tua mãe!

Olívia Manca não compreendeu o comportamento irracional da sua mãe, mas mesmo assim consentiu que lhe tivesse atirado com o peixe ao focinho... não estava em pontos de regatear, já que era totalmente dependente da família. Tinha porém a secreta certeza de que, mal pudesse, fugiria com o seu Zé Bigodes.

Os barcos chegaram, os pescadores sairam com os seus peixes, mas Zé Bigodes não regressou! Que lhe teria acontecido?

Audiolivro - Poemas de Luiz Vaz de Camões (Português Europeu - Portugal)

Seleção pessoal de 22 poemas de Luiz Vaz de Camões (Luís Vaz de Camões na grafia moderna). Luiz Vaz de Camões (1524-1580) é o grande poeta d...